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Oscar 2023: indígenas questionam o “custo do ouro” na maior premiação do cinema

Oscar 2023: indígenas questionam o “custo do ouro” na maior premiação do cinema
Crédito: DM9/divulgação

Enquanto os holofotes estão voltados para a comemoração do Oscar, Yanomamis alertam para os impactos do garimpo ilegal sobre seu território. Em substituição à tradicional estatueta, feita de ouro 24 quilates, os indígenas ofereceram aos artistas a figura de Omama, divindade que protege a Amazônia e seus povos.

Feita pelo artista plástico Felipe Corcione, a estátua foi entregue a 20 indicados da maior premiação do cinema, como Michelle Yeoh, Brendan Fraser e Jamie Lee Curtis. O objeto foi enviado junto de vídeo protagonizado pelo presidente da Uhiri Associação Yanomami, Junior Hekurari Yanomami. A ação faz parte da campanha “O Custo do Ouro” (The Cost of Gold).

Utilizando sua língua nativa, o líder indígena denuncia o rastro deixado pela extração de ouro. “Na sua cultura, o ouro é símbolo de sucesso, mas é importante saber a que custo. O ouro ilegal é garimpado com mercúrio. Litros e mais litros são despejados nos nossos rios, matando nossos animais, nossa floresta, nosso povo”, afirma.

O apelo é para que os artistas usem sua visibilidade para desestimular o uso do ouro. “Todos os participantes dessa premiação podem e já ajudaram muitas vezes a moldar o comportamento do mundo. Eles precisam saber qual é o custo real do ouro ilegal e ajudar a espalhar essa mensagem, para que possamos ver mudanças”, ressalta o líder indígena.

O custo do ouro

Segundo dados do MapBiomas, a área ocupada por garimpos em Terras Indígenas cresceu 495% entre 2010 e 2020, principalmente na Amazônia, que concentra 72% do território minerado no país. Só em 2021, o garimpo destruiu 2.409 hectares em terras indígenas na floresta. Os territórios Kayapó, Munduruku e Yanomami foram os mais afetados.

Na Terra Indígena Yanomami (TIY), o garimpo destruiu mais de mil hectares em 2021, um crescimento de 46% em relação a 2020. É a maior taxa anual desde a demarcação da TIY, em 1992. O resultado disso é crise humanitária no território, que veio a público nos últimos meses, escancarando a fome e a violência sofrida pelos Yanomamis.

Outro estudo, desenvolvido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), apontou que 28% do ouro comercializado no Brasil entre 2019 e 2020 pode ter origem ilegal. A exploração gerou prejuízos socioambientais de R$ 31,4 bilhões. A falta de regulamentação e monitoramento da atividade é o que mais facilita a ilegalidade. Como não há sistema informatizado para identificar compras e vendas de ouro, é muito fácil fraudar transações.