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População de peixes-bois volta a crescer na Amazônia

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População de peixes-bois volta a crescer na Amazônia
Peixe-boi-amazônico é o único sirênio exclusivamente de água doce./ Crédito: Anselmo Affonseca/Arquivo Pessoal

Entre as décadas de 1930 e 1960, o número de peixes-bois-da-amazônia (Trichechus inunguis) reduziu drasticamente em consequência da caça predatória. Estima-se que, no período, até 140 mil indivíduos tenham sido abatidos para obtenção de couro e carne. Passados 50 anos desde a proibição de sua caça, em 1967, surgem os primeiros indícios de que as populações do animal estão se reestabelecendo na Amazônia.

Estudo conduzido na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus, no Amazonas, mostra alta ocupação de peixes-bois vivendo em harmonia com comunidades humanas. O grupo liderado pelo biólogo e vice-presidente da Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa), Diogo de Souza, passou 44 dias de observação em 33 lagos da reserva, localizada a pouco mais de 200 quilômetros de Manaus.

Embora não seja possível fazer contagem e estimar o número exato de animais, indícios como fezes e plantas que serviram de alimento indicam o reestabelecimento da espécie na região.

Para Diogo, a criação da reserva parece ter tido efeito positivo na recuperação do animal. “Fizemos entrevistas com comunitários e pescadores e eles dizem ver mais vestígios de peixe-boi”, explica. Ele conta que, durante a pesquisa de campo, avistou grupos de até 12 indivíduos na natureza.

“Eu cheguei a ver momentos de cópula, de macho tentando copular com fêmeas em grupos. E a gente, naquele silêncio, chegando bem perto para ver, sem poder gritar de alegria”, diz o biólogo.

Os resultados do estudo sugerem que as atividades dos residentes não afetaram a retomada do peixe-boi. A taxas de caça da espécie também caíram nas últimas décadas. De acordo com os pesquisadores, a alta ocupação da espécie perto das comunidades pode estar associada à maior conectividade dessas áreas a outros corpos d’água, bem como à proximidade do canal principal do rio Purus.

“Os comunitários são conhecedores da floresta, são eles que também protegem esses animais, participam ativamente na reserva, no monitoramento dos lagos, na proteção do pirarucu e dos outros peixes. Esse conhecimento ecológico local é de extrema importância para o peixe-boi-da-amazônia e serve de informação importante quando a gente quiser colaborar com planos de gestão da reserva e tomada de decisões”, destaca Diogo.

Dócil e ameaçado

O peixe-boi-amazônico é o único sirênio (mamífero aquático herbívoro) exclusivamente de água doce e endêmico da bacia do rio Amazonas. No Brasil, ocorre nos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Roraima e Rondônia. É muito difícil avistá-lo em seu habitat, visto que só coloca o focinho para fora ao respirar na superfície da água. Além disso, a turbidez do rio associada à cor escura de sua pele, mascara a detecção do animal pela superfície.

A espécie é estritamente herbívora e alimenta-se de mais de 50 espécies de plantas aquáticas e semiaquáticas. Como são muito mansos, os peixes-boi são iscas fáceis para caçadores. A espécie foi amplamente explorada, principalmente no rio Purus, e ainda hoje há registros de caça, embora menos frequentes. Capturas acidentais, perda de habitat, desmatamento, trânsito de embarcações e também são ameaças à sua sobrevivência.

Considerando a ameaças do passado e as futuras, como a projeção de construção de inúmeras hidrelétricas na bacia Amazônica, declínio populacional de pelo menos 30% ao longo de três gerações é esperado para espécie, por isso é classificada como “Vulnerável” pelo Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.

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