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Crueldade animal: Brasil exportou 2,6 milhões de bois vivos entre 2012 e 2020

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Crueldade animal: Brasil exportou 2,6 milhões de bois vivos entre 2012 e 2020
Crédito: Mercy For Animals Brasil

Entre 2019 e 2020, mais de 800 mil bois vivos foram transportados em navios brasileiros com destino a países do Oriente Médio e Norte da África. Em viagens que podem durar semanas, o gado é levado em pé dentro de cabines minúsculas e em condições insalubres. Nem sempre construídos para esta finalidade, os navios contam com infraestrutura e sistemas de ventilação precários, o que causa sofrimento e alta mortalidade de animais.

A maior parte do gado é criada em fazendas no Pará. O estado é o maior exportador de animais vivos do país e pelo menos três de seus municípios com atividade pecuária estão entre os campeões de desmatamento da Amazônia. Em 2019, o Pará foi responsável por 48% da área de floresta degradada, e 42% em 2020, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Para acabar com o sofrimento dos animais exportados vivos e frear o avanço da pecuária sobre a Amazônia, a organização Mercy For Animals (MFA) lançou um manifesto pelo fim da exportação de gado em pé no Brasil. Em petição, a organização pede a aprovação do Projeto de Lei 357/2018, que extingue a prática no país. O abaixo-assinado conta com mais de 500 mil assinaturas. Clique aqui para assinar.

“Os animais exportados sofrem ao extremo, pois são mantidos confinados em navios por semanas, sendo obrigados a deitar sobre as próprias fezes e urina, além de serem brutalmente mortos nos países de destino. Não podemos aceitar mais isso. Temos que banir essa prática terrível”, afirma Luiza Schneider, vice-presidente de Investigações da MFA.

ATENÇÃO I Alerta de cenas fortes:

Mercado

Um dos líderes do mercado, o Brasil foi o segundo maior exportador de bovinos vivos por via marítima em 2019. Entre 2012 e 2020, o país exportou 2,6 milhões de bois vivos para abastecer países como Turquia, Egito, Líbano, Iraque, Jordânia, Arábia Saudita e Emirados Árabes. A maior parte dos animais saíram de portos do Pará (66,4%), Rio Grande do Sul (20%) e São Paulo (8,3%).

Minerva, Agroexport Trading e Agronegócios, Mercúrio Alimentos e Wellard do Brasil são as empresas que promovem essa atividade cruel. Juntas, elas foram responsáveis por 81,4% das exportações de bovinos vivos no Brasil entre 2015 e 2017.

Bastidores da crueldade

A exportação de animais vivos no Brasil é realizada majoritariamente por via marítima. O extremo sofrimento é intrínseco a esse tipo de exportação, atrelada a uma cadeia de maus tratos. Antes de chegarem aos navios, os bois são transportados em caminhões por estradas de chão, em rodovias com péssima condição de conservação, podendo até fazer travessias de balsa.

Nessas viagens terrestres, feitas em caminhões também com pouco espaço, os animais sofrem estresse e desconforto, além de privação de alimento e água por muitas horas. Após chegarem nos navios, a tortura continua. Eles são obrigados a deitar sob suas próprias fezes e urina, em ambientes quentes e abafados.

Cada boi embarcado tem em média 1,55 m² de espaço, o equivalente a uma porta convencional com largura de 77 cm por 2,10 cm de altura. Eles também podem ficar expostos ao sol, chuva, ventos fortes e demais intempéries.

A falta segurança na exportação de gado em pé é outro problema. Em 2015, um navio afundou no porto do Pará e 5 mil bois morreram afogados ou abatidos por ribeirinhos. Os corpos dos animais mortos e o vazamento de óleo do navio provocaram um dos maiores desastres ambientais daquela região. A previsão é de que a estrutura do navio comece a ser resgatada neste ano.

Em 2012, o sistema de ventilação de uma embarcação parou de funcionar em alto mar e 2.750 bois morreram por asfixia. Os animais foram embarcados no Porto de Vila do Conde, em Barcarena, no Pará, e tinham como destino o Egito.