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Parques nacionais contam com 1 funcionário para cada 11 mil hectares, aponta pesquisa

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Parques nacionais contam com 1 funcionário para cada 11 mil hectares, aponta pesquisa
Parque Nacional do Iguaçu é a primeira unidade de conservação do Brasil. A gestão é do governo federal.

Escassez de recursos, falta de infraestrutura e equipes reduzidas estão entre os principais desafios enfrentados pelos parques naturais no Brasil, indicou a 5ª edição do “Diagnóstico de Uso Público em Parques Brasileiros: A Perspectiva da Gestão”, do Instituto Semeia. O levantamento traça um raio-X da realidade dos parques a partir da percepção dos profissionais que atuam nessas áreas.

Nos parques nacionais, a falta de pessoal foi um dos maiores problemas identificados pela pesquisa, que analisou 370 parques das três esferas governamentais. Nas unidades geridas pelo governo federal, a média é de um funcionário para cada 11 mil hectares, o equivalente a 11 mil campos de futebol. Nas esferas estadual e municipal, o número cai para um profissional para cada 2 mil hectares e um para cada 58 hectares, respectivamente.

Os dados indicam que 49% dos parques possuem equipes de até 10 pessoas e 9% contam com apenas um colaborador. Os poucos profissionais contratados ainda ocupam a maior parte do tempo com rotinas administrativas (41%), o que impede a execução de tarefas de grande importância, como atividades de apoio à visitação e conservação ambiental.

A carência de colaboradores soma-se à escassez de investimentos. Na opinião de 67% dos profissionais entrevistados, faltam subsídios financeiros e humanos para a gestão das unidades. De acordo com o estudo, o valor médio do orçamento em 2019 para os parques federais foi de R$ 790 mil, R$ 801 mil para os municipais e R$ 9,6 milhões para os estaduais.

“Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, o National Park Service [Serviço Nacional de Parques], órgão responsável por gerenciar 421 unidades, que correspondem a 34 milhões de hectares, teve em 2019 um orçamento de USD 2,4 bilhões. O ICMBio, no mesmo ano, teve um orçamento de R$ 791 milhões, isto é, USD 142,6 milhões, para gerir cerca de 170 milhões de hectares de áreas protegidas terrestres e marinhas”, analisa Mariana Haddad, coordenadora do estudo.

Potencial inexplorado

Para os autores do estudo, atividades de uso público, tais como serviços de alimentação, estacionamento ou vendas de souvenir, são formas eficazes de suprir os déficits orçamentários dos espaços, mas somente 24% dos parques que receberam visitantes em 2019 exploraram essa possibilidade.

Até os que lucraram com o uso do espaço, não investiram em melhorias. Pouco mais de 10% gerou receita com cobrança de ingresso e em 62% o recurso não foi revertido diretamente para o parque. A falta de investimentos reflete diretamente nas condições de visitação, um dos pontos centrais levantados pela pesquisa.

Mais da metade dos parques não possuem infraestrutura básica, como banheiro, estacionamento, entre outros. Das unidades que receberam visitantes em 2019 (79%), apenas 7% afirmaram contar com estrutura que atende plenamente as necessidades básicas de visitação, e somente 11% consideram que a manutenção das estruturas está em excelente estado.

“Nossos parques têm um grande potencial turístico. Temos locais com paisagens cênicas exuberantes, que poderiam ser mais visitados e conhecidos pela sociedade. Mas no momento em que não oferecemos condições básicas de visitação, esse potencial fica comprometido e essas áreas ficam impedidas de cumprir plenamente uma de suas missões fundamentais, além da conservação: serem o elo de aproximação entre as pessoas e a natureza”, destacou Mariana Haddad.

Metodologia

As informações foram coletadas a partir de um questionário online respondido por profissionais que atuam em parques naturais no país. Os dados foram coletados entre 18 de maio e 13 de agosto de 2020. Os 370 parques analisados estão distribuídos por 21 estados das 5 regiões, representando 77% do universo de parques registrados no Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC) até 2019.

“Diagnóstico de Uso Público em Parques Brasileiros: A Perspectiva da Gestão”