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Caça e tráfico de animais silvestres aumenta o risco de novas pandemias

Caça e tráfico de animais silvestres aumenta o risco de novas pandemias
Na zona rural da Amazônia

Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que ao menos 70% das doenças que atingiram humanos nas últimas décadas são de origem animal. Isto significa que a cada quatro novas infecções, três são zoonóticas, ou seja, transmitidas por animais. No Brasil, o consumo de animais silvestres caçados ilegalmente ainda é uma prática comum, apesar dos riscos ambientais e sanitários.

De acordo com a ONU, o comércio globalizado, as mudanças climáticas e o aumento mundial do consumo de carne, faz com que essas doenças – como o novo coronavírus, que também é uma doença zoonótica – atinjam diferentes pontos do globo em um curto espaço de tempo. A origem da covid-19 ainda não foi comprovada, mas acredita-se que o primeiro paciente infectado na China tenha consumido um morcego ou pangolim de mercados locais.

Outras doenças, como SARS, MERS e ebola, também estão relacionadas a zoonoses e com a venda de animais selvagens. Apesar das atenções estarem voltadas para os mercados de vida selvagem na China, epicentro da doença, o consumo de carne de animais silvestres é comum em muitos países, inclusive no Brasil.

Um estudo da Universidade Federal do Acre (UFAC), de 2017, apontou que 78% das 550 pessoas entrevistadas pela pesquisa consumiam ou já consumiram animais silvestres. Estima-se que na Amazônia, somente na área rural, cerca de 1 milhão de toneladas de carne de caça sejam consumidas por ano.

Segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, aproximadamente 53% das famílias na Ásia, África e América Latina se alimentam de animais selvagens.

Transmissão de doenças

Por serem consideradas iguarias em diversos locais do mundo, algumas espécies estão quase extintas devido ao tráfico e à caça, como é o caso do pangolim. Encontrado na Ásia e África, o pangolim é o mamífero mais traficado do mundo. Estima-se que 900 mil indivíduos foram traficados nas últimas duas décadas, uma média de 125 por dia.

Para evitar futuros riscos à saúde pública, bem como frear a caça e o tráfico do animal, a China decretou, em junho do ano passado, proteção máxima ao pangolim e outras espécies selvagens. No Brasil, a caça de animais silvestres é proibida desde 1967, mas o consumo de carnes exóticas ainda impulsiona a matança indiscriminada de capivaras, pacas, tatus e outros animais.

Onças, jabutis, gambás e macacos, muitos ameaçados de extinção, também são vítimas da caça e são criados em criadouros ilegais, o que eleva as chances de contaminação e disseminação de zoonoses. Eles podem transmitir tuberculose, raiva, doença de Chagas e até peste bubônica, que já matou milhares de pessoas.

O tatu, cuja carne é bastante consumida no Brasil, hospeda uma infinidade de patógenos que podem ser transmitidos a humanos, como a leishmaniose, a hanseníase (lepra) e outras verminoses. No Pará, pesquisadores detectaram a presença da bactéria causadora da lepra em 62% dos 16 tatus testados, o que mostra os perigos do contato e ingestão da carne do animal. Até o consumo de javalis, únicos que podem ser caçados no Brasil, também apresenta perigos, já que está associado a doenças como tuberculose, hepatite E, entre outras.

Com informações de Revista Clínica Veterinária

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