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Caçadores usam redes sociais para promover abate de animais silvestres

Caçadores usam redes sociais para promover abate de animais silvestres
Queixada ou porco-do-mato morta por caçadores - Crédito: reprodução/Facebook via BBC

Grupos virtuais de caça de animais silvestres têm proliferado nas redes sociais em resposta à flexibilização das regras para acesso a munição e armas de fogo no país. Em imagens chocantes, caçadores ilegais compartilham suas caçadas e se exibem com a matança desenfreada e cruel de animais.

Embora a atividade seja proibida no país desde 1967, os decretos que o presidente Jair Bolsonaro publicou no ano passado facilitaram a ação de colecionadores de armas, atiradores esportivos e caçadores, grupo conhecido como CACs.

Antes, o limite para caçadores era de 12 armas, 6 mil munições e 2 kg de pólvora por pessoa. Com as mudanças, eles podem ter a posse de até 30 armas, 90 mil munições e 20 kg de pólvora. Segundo o Instituto Sou da Paz, o número de registros ativos de CACs chegou a 396.955 em 2019, um aumento de 50% em relação a 2018.

Com o apoio declarado do presidente e a crescente pressão para liberação da atividade, parece que os caçadores não temem mais represálias, nem precisam esconder seus troféus de caça. Nos grupos virtuais, eles compartilham fotos de pacas, onças, veados, queixadas, jacarés e todos os tipos de animais silvestres mortos.

No Facebook, o grupo “Caçadores de paca” foi criado em julho de 2019 e já conta com 74 mil membros de todas as regiões do Brasil. Sem medo, os caçadores mostram seus rostos e ostentam as carnificinas. Vídeos de caçadas são bem populares entre eles, nos quais ensinam suas técnicas e mostram como funciona a caça com cães, uma das modalidades mais comuns.

Até os cachorros utilizados pelos caçadores tem seus ferimentos expostos no grupo. Em cenas revoltantes, um usuário mostrou os olhos de seu cão, totalmente feridos, após uma intensa caçada. Outro ainda respondeu “espreme limão que limpa. No outro dia está bom, já curei muitos assim”.

Os registros só evidenciam a brutalidade e crueldade da atividade, que maltrata tanto animais silvestres como domésticos. Embora alguns caçadores se declarem contra à matança indiscriminada e poupem espécies ameaçadas, a maioria se vangloria por abater dezenas de bichos em uma só caçada, sem qualquer preocupação com os impactos ambientais.

No Youtube, a matança é igualmente divulgada, encontrando inúmeros admiradores. No canal “Alemão CAÇADOR!”, um homem, cujo rosto não é mostrado, defende abertamente a caça e posta diversos vídeos de animais sendo abatidos com as técnicas mais brutais. Mais de 40 mil pessoas estão inscritas no canal.

“FAL CAÇADOR”, “só do mato caçador”, “Caçadores Anônimos” e “Pedrinho caçador sniper” são outros canais criados na plataforma só nos últimos dois anos para divulgar o abate ilegal de animais silvestres.

Questionado pela reportagem da BCC Brasil, o Facebook retirou do ar alguns grupos por violar regras ao retratar ou promover violência física contra animais. Infelizmente, outras comunidades virtuais continuam divulgando os conteúdos ilícitos, como o “Caça e Pesca Brasil”. No YouTube, a maioria dos canais permanece ativa e a plataforma não se posiciona de forma clara contra os abusos.

Em nota, a empresa disse que é “uma plataforma de vídeo aberta e qualquer pessoa pode compartilhar conteúdo, que está sujeito a revisão de acordo com as diretrizes da comunidade”.

Recente pesquisa encomendada pela WWF-Brasil apontou que 93% dos brasileiros são contra a caça de animais silvestres. Entretanto, alguns parlamentares e o próprio presidente Jair Bolsonaro se posicionam favoravelmente. Atualmente, cinco projetos de lei tramitam na Câmara dos Deputados com objetivo de liberar a atividade. Entre eles está o PL 6.268/2016, de autoria de Valdir Colatto, atual chefe do Serviço Florestal Brasileiro (SFB).

Com informações de BBC Brasil