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Agrotóxico é ligado à mortalidade de peixes colombianos

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Agrotóxico é ligado à mortalidade de peixes colombianos
Peixe bocachico/Crédito: Zuluaga Gómez

Estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Nacional da Colômbia (U.N) relacionou distúrbios nos sistemas nervoso e respiratório de peixes nativos do país ao uso do Roundup, agrotóxico cujo princípio ativo é o glifosato. A pesquisa expôs espécies como yamú, bocachico, cachama blanca e peixe fantasma ao agente tóxico, desenvolvido pela multinacional Monsanto.

“Aplicando quantidades necessárias e suficientes, conseguimos determinar seu efeito tóxico nos peixes”, explicou o professor Jaime González, da Faculdade de Medicina Veterinária e de Zootecnia da U.N, durante apresentação do livro “Efeitos Tóxicos do Glifosato na Ictiofauna Nativa da Colômbia” em Bogotá.

Segundo o professor, yamú (brycon siebenthalae) e bocachico (Prochilodus magdalenae) foram as espécies utilizadas nos primeiros testes de toxicologia básica. A conclusão foi que ambas são bastante sensíveis à exposição ao agrotóxico, apresentando altas taxas de mortalidade.

“Antes de morrer apresentaram alterações extremas no sistema nervoso, o que se evidenciou pelo nado frenético dos peixes nos aquários, somado aos sintomas de dificuldade respiratória que foram confirmados na necropsia, pela cor achocolatada que assumiram as brânquias, uma indicação de que o sangue não estava bem oxigenado”, explicou González.

Já o peixe fantasma apresentou resistência muito maior, mas, mesmo assim, foi severamente afetado pelo agente químico. Foi necessária uma concentração de 90 ppm (partes por milhão) do agrotóxico na água – mais de três vezes a utilizada nas amostras do yamú e bocachico – para que sintomas de alteração no sistema nervoso e dificuldade respiratória se manifestassem na espécie.

Os pesquisadores verificaram que a coloração do sangue se alterou drasticamente com a concentração de 90 ppm de glifosato. O sangue muito escuro é indicativo de que não está oxigenando. Para demonstrar a reação, o professor González compartilhou com os participantes da feira um vídeo em que um peixe fantasma, geralmente noturno, deixava seu refúgio, em plena luz do dia, para subir à superfície do aquário em busca de ar.

A espécie ornamental costuma utilizar ondas elétricas para se comunicar. Quando exposta ao glifosato, o volume elétrico que emitiu chegou a 1.200 Hertz e, antes do experimento, a onda estava entre 800 e 900 Hertz. De acordo com González, quando este peixe emite uma onda de tais valores é para indicar que há algo errado com o ambiente.

Estresse oxidativo

Outro tópico da pesquisa foi a análise do estresse oxidativo nos peixes, que é a sobrecarga do indivíduo. O nível foi medido pela resposta de suas membranas celulares, as quais “devem permanecer intactas, do contrário as células morrem”, segundo González. Os pesquisadores detectaram estresse oxidativo causado pelo glifosato no yamú e na cachama blanca.

Agrotóxicos como o glifosato podem ocasionar a quebra de lipídios e proteínas que compõem estas membranas, fazendo com que entrem em colapso. Esse efeito é causado por compostos surfactantes, presentes em muitos agrotóxicos por melhorarem seu desempenho.

“O glifosato é projetado para agir sobre a célula vegetal que, ao contrário da animal, possui uma parede celular (barreira adicional de proteção) e graças a isso é possível prever que o herbicida age mais facilmente na membrana celular de um animal”, apontou o professor.

No experimento de estresse oxidativo nenhum peixe morreu ou foi intoxicado, mas os testes bioquímicos indicaram que as membranas celulares das brânquias e do fígado começaram a se alterar, causando desequilíbrio no organismo das espécies.

A pesquisa é desenvolvida desde 2004 e conta como apoio da Fundação Internacional para a Ciência (FIC) e Universidade Distrital Francisco José de Caldas (UD).

*Com informações da agência de notícias da Universidade Nacional da Colômbia