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Pesca ilegal ameaça reprodução de tartarugas-marinhas

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Pesca ilegal ameaça reprodução de tartarugas-marinhas
Tartaruga-verde (Chelonia mydas)

Intensificada nos últimos meses, a temporada reprodutiva de tartarugas marinhas está sendo marcada pelo alto índice de encalhes, sobretudo no litoral do Espírito Santo. Segundo dados do Projeto Tamar, 85 tartarugas-oliva (Lepidochelys olivacea) adultas foram encontradas mortas nas praias do norte do estado, quase o triplo da quantidade identificada no período anterior.

Da espécie cabeçuda (Caretta caretta), foram identificados 74 corpos, contra os 27 da temporada anterior. As ocorrências foram registradas nas praias de Comboios, no munícipio de Aracruz, até Guriri, em São Mateus, com encalhes concentrados na região de Pontal do Ipiranga até Guriri.

Pesquisadores ressaltam a gravidade da situação, considerando que as perdas são de indivíduos adultos em pleno período de reprodução. Em média, cada tartaruga morta representa 600 ovos a menos, considerando o padrão de postagem das fêmeas de cinco ninhos, como 120 ovos cada.

Além disso, a cada mil filhotes que eclodem dos ovos e vão para o mar, apenas um ou dois atingem a idade adulta aos 30 anos e retornam à praia de origem para desova e perpetuação do ciclo de vida. Das cinco espécies de tartarugas-marinhas encontradas no país, todas estão ameaçadas de extinção e quatro tem como habitat as praias capixabas.

Conflitos com a pesca – como a captura incidental – configuram a principal ameaça às espécies, já fragilizadas pelas mudanças climáticas, degradação das áreas de desova, luzes artificiais e poluição dos oceanos. Para o coordenador do Tamar, Joca Thomé, tudo indica que as mortes são fruto das pescarias ilegais, realizadas durante o defeso do camarão.

“Entendemos que o setor passa por uma crise muito grande, com queda dos estoques naturais, barcos de outros estados atuando aqui e proibição de uma grande área por conta da tragédia da Samarco. Isso impacta muito o pescador que, para sobreviver, busca a ilegalidade. Daí a importância de se intensificarem o diálogo, assim como as ações de fiscalização, visando coibir a pesca ilegal”, explicou o coordenador.

Temporada reprodutiva

A desova das tartarugas está sendo realizada desde setembro, período no qual o Tamar estabelece áreas prioritárias de reprodução, elencando as zonas que possuem mais ninhos. Entre Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro, os filhotes eclodem dos ovos de novembro a abril, enquanto nas ilhas oceânicas os nascimentos começam em fevereiro.

Até março, a tartaruga-cabeçuda desova no Espírito Santo, Bahia, Sergipe e Rio de Janeiro, deixando mais de 8.200 ninhos por ano. As de pente (Eretmochelys imbricata) se concentram no Nordeste e mais de 2 mil ninhos da variedade são protegidos pelo Projeto Tamar. Já as da espécie oliva desovam quase o ano todo nas praias do Alagoas, Sergipe, indo até o litoral baiano.

Desde outubro do ano passado, as tartarugas-de-couro (Dermochelys coriacea) estão fazendo ninhos no Espírito Santo, único local no Brasil em que a espécie desova regularmente. Elas possuem a menor população entre as tartarugas marinhas brasileiras, depositando apenas 120ninhos por ano.

As ilhas de Fernando de Noronha (PE), Atol das Rocas (RN) e Trindade (RS) recebem especialmente a tartaruga-verde (Chelonia mydas), cuja desova ocorre no mês de dezembro. A espécie, que também deposita seus ovos na Bahia, possui quase 5 mil ninhos protegidos pelo projeto.

Com informações de Projeto Tamar

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