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Mineração foi responsável por 9,2% do desmatamento da Amazônia em dez anos

Mineração foi responsável por 9,2% do desmatamento da Amazônia em dez anos
Crédito: Janine Costa/Reuters

A mineração foi responsável, direta e indiretamente, por 9,2% de todo desmatamento registrado na Amazônia entre 2005 e 2015. O alerta é de um grupo de pesquisadores de universidades dos Estados Unidos, Austrália e Brasil. O estudo foi publicado nesta quarta-feira (18) na revista “Nature Communications”.

O grupo analisou as mudanças na paisagem em torno das 50 maiores minas ativas da Amazônia – apenas mineração autorizada foi avaliada; garimpos ilegais não foram considerados. O intuito era medir o impacto imediato no ponto de lavra e o desmatamento induzido para funcionamento de toda a operação.

A conclusão foi de que o corte da floresta se estende por até 70 quilômetros além das fronteiras das lavras, oriundo da implantação de infraestrutura como estradas, ferrovias e aeroportos, e da expansão urbana de suporte para o crescimento da força de trabalho. Na década avaliada, o desmatamento total induzido pela mineração foi de 11.670 km². De acordo com o estudo, a maior parte (90%) ocorreu fora do local de extração. Ou seja, a devastação fora das minas foi 12 vezes maior do que dentro.

Segundo os autores, estimativas anteriores indicavam que a mineração respondia por apenas 2% ou 3% do desmatamento. “Era sabido que existia uma influência, mas ela nunca havia sido mensurada. Normalmente se pensa só no buraco, na cava, mas não é só isso. Junto com a mineração vem toda a infraestrutura associada. O impacto indireto é muito maior”, alerta o pesquisador Britaldo Soares-Filho, do Centro de Sensoriamento Remoto e um dos autores da pesquisa.

Ele afirma que perto das minas até existe preservação da floresta. “Em várias delas, a empresa estabeleceu buffer de floresta no entorno, mas, além disso, toda a infraestrutura, as siderúrgicas associadas à mineração de ferro, a migração populacional no entorno. Isso tudo obviamente acelera o desmatamento”, pontuou.

Os autores ressaltam a importância da pesquisa, sobretudo quando se discute no Congresso abrir terras indígenas e unidades de conservação para a mineração, como a ameaça recente de extinção da Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca). Para Soares, isso também deveria ser levado em conta na discussão que ocorre neste momento sobre mudanças no licenciamento ambiental.
“O processo de licenciamento hoje como existe no Brasil já é muito falho por não considerar a cadeia de impactos. Esses empreendimentos avaliados passaram todos por licenciamento, mas ele só considera o entorno. Isso não é só para a mineração, mas para hidrelétrica e todo o resto. Tem de haver uma avaliação dos possíveis impactos futuros”, defende.

Para Dalce Ricas, superintendente da Amda, a pesquisa é uma grande contribuição ao movimento mundial que luta para salvar a floresta tropical da Amazônia. Ela também defende que o estudo seja usado pelo poder público para rever o processo de licenciamento: “não para acabar com ele como está acontecendo, mas para torná-lo sério e factível ambientalmente. Não considerar a cadeia de impactos dos empreendimentos é um dos piores aspectos do licenciamento no Brasil. A fábrica da Coca-Cola em Itabirito e loteamentos como o Alphaville são excelentes exemplos demonstrativos disto”, afirmou.