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Construção de porto em Santa Catarina ameaça toninhas

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Construção de porto em Santa Catarina ameaça toninhas
Toninha sendo observada de uma plataforma aérea / Crédito: Dani.Aqualie

Ambientalistas contestam o licenciamento e questionam a viabilidade do empreendimento chamado Terminal Marítimo Mar Azul, que prevê a instalação de uma ponte de quase 1,5 quilômetros sobre as águas da baía da Babitonga, em São Francisco do Sul, norte de Santa Catarina. A maior preocupação ambiental refere-se ao impacto do porto sobre as toninhas, espécie de golfinho ameaçada de extinção.

O projeto, de R$ 250 milhões, é da Companhia de Navegação Norsul. Sua principal função, conectada a um novo Centro de Distribuição de Cargas, será o transporte de bobinas de aço para a empresa Arcelor Mittal, siderúrgica que tem uma unidade industrial próxima ao local, do outro lado da BR-280.

Segundo reportagem do jornal Estadão, o projeto recebeu licença prévia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em outubro de 2012, com uma lista de condicionantes que precisam ser atendidas para obtenção da licença de instalação. Entre elas, está a eliminação do píer mais externo, dedicado a navios de maior calado, reduzindo assim o tamanho da ponte em cerca de 300 metros e restringindo o tráfego de embarcações às barcaças usadas no transporte das bobinas.

De acordo com a bióloga Marta Cremer, as toninhas da Babitonga formam a única população residente em baía conhecida dessa espécie, que normalmente habita áreas costeiras. São cerca de 50 a 80 animais apenas, que circulam por uma região inferior a 20% da área total da baía – de 134 km². Estudos de rastreamento via satélite mostram que elas concentram-se no entorno de algumas ilhas, localizadas no meio do canal da baía. E é justamente nesse trecho que o porto deverá ser instalado.

“Haverá um impacto direto sobre as toninhas, tanto por causa da estrutura física do porto quanto da área de manobra dos navios”, pontua Cremer, professora da Universidade da Região de Joinville e coordenadora do Projeto Toninhas, dedicado ao estudo e conservação da espécie. Outros animais ameaçados que seriam possivelmente afetados incluem o boto-cinza, a tartaruga-verde e o mero.

Além da poluição acústica causada pelos navios, ambientalistas temem que o porto exija dragagens do leito marinho, cuja profundidade não passa de 12 metros. “Eles insistem em dizer que não vai haver dragagem, mas é claro que vai. Não existe porto dentro de baía que não precise dragar”, afirmou a bióloga.

O píer externo foi vetado pelo Ibama justamente por deduzir-se que “não será possível operar navios com 12 metros de calado a plena carga sem necessidade de dragagens”.

Toninhas

Conforme informações do site do Projeto Toninhas, esse animal é o golfinho mais ameaçado de todo Atlântico Sul Ocidental e atualmente é a única espécie de pequeno cetáceo ameaçada de extinção no Brasil, segundo a Lista Oficial das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) também considera a espécie ameaçada, na categoria vulnerável. Segundo a Lei Municipal 875/2009, a toninha é a mascote oficial do Município de São Francisco do Sul.

A toninha é um dos menores golfinhos do mundo. Sua nadadeira dorsal é pequena, triangular e levemente curvada para trás. Tem a função de auxiliar no equilíbrio térmico e na estabilidade do corpo. A nadadeira peitoral tem formato de espátula, com as bordas levemente onduladas. Seu rostro é proporcionalmente o mais longo entre os cetáceos existentes e mede entre 15 e 22 centímetros. A toninha pode ter mais de 200 dentes.

Sua coloração é marrom-acinzentado no dorso e marrom-claro ou cinza-claro no ventre, que também pode apresentar uma coloração rosada. A área ao redor dos olhos é escura. Os filhotes em geral têm a cor mais clara.