Informações Ambientais

Amazônia no prato: os impactos da indústria da carne sobre a floresta

Amazônia no prato: os impactos da indústria da carne sobre a floresta
Gado visto em área de fazenda próximo a floresta em Apuí (AM)/Crédito: Bruno Kelly/Amazônia Real [CC BY 2.0]

O avanço da agropecuária é um dos principais motores do desmatamento na Amazônia, com graves consequências para o clima. De acordo com relatório do Greenpeace Internacional, a indústria da carne responde por 80% do desmatamento na floresta e, até 2030, a pecuária terá liberado 49% dos gases de efeito estufa permitidos para manter o aquecimento da Terra entre 1,5 e 2ºC.

Atualmente, sete dos dez municípios que mais emitem gases de efeito estufa no Brasil estão no bioma amazônico, e os campeões de emissões – São Félix do Xingu (PA), Altamira (PA) e Porto Velho (RO) – são também os com as maiores taxas de desmatamento dos últimos dois anos.

Em São Félix de Xingu, líder de emissões, das 29,7 milhões de toneladas brutas de CO2e emitidas em 2018, mais de 25 milhões vieram das mudanças de uso da terra (desmatamento), cerca de 85% do total emitido pela cidade. Outras 4,22 milhões de toneladas foram emitidas pela agropecuária. O município é detentor do maior rebanho do Brasil.

O gado pasta a Amazônia

Dados do Greenpeace mostram que 80% do desmatamento global é causado pela agropecuária. Somando as áreas de pastagens e as plantações de soja para ração, a pecuária abocanha 77% das terras cultivadas no mundo todo.

No Brasil, o rebanho bovino é o segundo maior do planeta. De acordo com dados divulgados pelo IBGE, em 2019 o país contava com 214 milhões de cabeças de gado – pouco a mais que a população brasileira, que soma aproximadamente 211 milhões de pessoas. Grande parte desses animais estão em fazendas na Amazônia, região onde o rebanho cresce em taxas alarmantes.

Enquanto o gado avança sobre a floresta, o mundo esquenta. De acordo com o relatório, o ponto de inflexão da Amazônia (isto é, o ponto a partir do qual a degradação ambiental se torna irreversível, bem como as consequências climáticas por ela causadas) pode ser alcançado em menos de 20 anos. O que significa que a maior floresta tropical do mundo pode se transformar em uma região agreste nas próximas décadas.

Isso aumentaria a emissão de gases de efeito estufa, diminuiria a capacidade do solo e das árvores de armazenarem esses gases, alteraria o regime de chuvas de toda a América do Sul e causaria alterações climáticas em todo o planeta.

Riscos à saúde pública

Dados do levantamento mostram que a carne e a soja brasileiras, além de contaminadas pelo desmatamento, estão envenenadas por agrotóxicos. Nos dois primeiros anos de seu governo, Jair Bolsonaro liberou quase mil substâncias, incluindo várias proibidas em outras partes do mundo. Cerca de ⅔ desses produtos são usados nas plantações de soja, das quais 90% se transformam em ração para gado.

Outro fator de risco à saúde pública, decorrente da produção agropecuária insustentável, é o surgimento de novas pandemias. Áreas com alta biodiversidade, como a Amazônia, funcionam como reservas de patógenos. Ao desmatar e levar para a região animais que não fazem parte do ecossistema, como os bovinos, há altas chances de vírus amazônicos sofrerem mutações, infectarem o gado e, posteriormente, os humanos.

Lavagem de gado

Considerando os danos irreversíveis à Amazônia, impactos ao clima e risco de novas pandemias surgirem, o relatório destaca a urgente necessidade de interromper o rastro de destruição da indústria da carne. Atualmente, um dos maiores problemas a serem resolvidos é o caminho sujo da venda de gado, em que bois de fazendas irregulares são transferidos para propriedades legais, ocultando o rastro do desmatamento.

Como os produtores indiretos não são monitorados pelos grandes frigoríficos, tampouco pelo governo, a carne contaminada é exportada sem que os compradores conheçam sua real procedência. Dessa forma, vende-se gado procedente de áreas de desmatamento como se sua procedência fosse “limpa”.

Dentre os outros mecanismos usados para mascarar a destruição, estão o não registro dos animais, ou o sigilo, por parte das indústrias da carne, de seus fornecedores.

Os autores do relatório indicam que com rastreamento, fiscalização e punição é possível reverter esse cenário. Cabe às empresas produtoras rastrearem toda a cadeia de produção, e não manter relações comerciais com fornecedores que estejam, de alguma forma, ligados ao desmatamento.

Às redes de supermercados e fast food, cabe evitar a compra de carne e laticínios de produtores que não comprovarem a procedência de seus produtos. Aos governantes, fica a responsabilidade de adotar regras mais rígidas quanto ao controle ambiental das exportações.

Fique por dentro:

Com desmatamento na Amazônia, agronegócio pode perder R$ 5,7 bilhões por ano

Amazônia fecha mês de junho com alta de desmatamento e queimadas

Amazônia sob pressão: panorama das ameaças à maior floresta tropical do mundo