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Municípios que lideram ranking brasileiro de emissões são os que mais desmatam na Amazônia

Municípios que lideram ranking brasileiro de emissões são os que mais desmatam na Amazônia
Desmatamento ilegal no Mato Grosso/Crédito: SEMA/Christiano Antonucci [CC BY-NC-SA]

Com a destruição avançando sobre a Amazônia, a maior floresta tropical do mundo pode se tornar uma grande fonte de carbono. Um novo levantamento mostrou que sete dos dez municípios que mais emitem gases de efeito estufa no Brasil estão no bioma, e os campeões de emissões – São Félix do Xingu (PA), Altamira (PA) e Porto Velho (RO) – são também os com as maiores taxas de desmatamento dos últimos dois anos.

Os dados, da primeira edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) Municípios, relacionam o desmatamento com a emissão de carbono, principal causa do aquecimento global. O levantamento é uma iniciativa inédita do Observatório do Clima, que calculou as emissões de gases de efeito estufa de todos os 5.570 municípios brasileiros entre 2000 e 2018.

De acordo com a pesquisa, os dez maiores emissores do Brasil, juntos, emitem 172 milhões de toneladas brutas de gás carbônico equivalente (CO2e). É mais do que países inteiros, como Peru, Bélgica e Filipinas. Os municípios que mais emitem estão na região Norte. Apenas três do “top 10” estão fora da Amazônia: São Paulo (4º), Rio de Janeiro (9º) e Serra (10º), no Espírito Santo.

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Fonte: Observatório do Clima/SEEG

Em São Félix de Xingu, líder de emissões, das 29,7 milhões de toneladas brutas de CO2e emitidas em 2018, mais de 25 milhões vieram das mudanças de uso da terra (desmatamento), cerca de 85% do total emitido pela cidade. Outras 4,22 milhões de toneladas foram emitidas pela agropecuária. O município é detentor do maior rebanho do Brasil.

“Quando você vê as emissões de agropecuária, elas envolvem os animais, são as chamadas fermentações entéricas, o arroto do boi. Ele come capim e degrada a matéria orgânica dentro do estômago, um ambiente anaeróbico”, explicou Tasso Azevedo, coordenador do SEEG.

Se fosse um país, São Félix do Xingu seria o 111º do mundo em emissões, à frente de Uruguai, Noruega, Chile, Croácia, Costa Rica e Panamá, segundo dados do Cait, o ranking global de emissões do World Resources Institute. Atualmente, o Brasil é o 5º maior emissor de gases de efeito estufa do mundo.

Principais fontes

Além de indicar os municípios que mais emitem gases de efeito estufa, o levantamento detalhou as fontes de emissão. Em mais da metade dos municípios (65,8%), a agropecuária foi a principal fonte emissora em 2018. Cidades no Pará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul ficaram entre as 20 que mais emitiram pelo setor agropecuário no período, por concentrarem os maiores rebanhos bovinos.

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Fonte: Observatório do Clima/SEEG

São Paulo, Manaus e Rio de Janeiro lideraram as emissões do setor de energia e processos industriais, provenientes, sobretudo, do consumo de combustíveis fósseis. Dois municípios mineiros, Vespasiano e Sete Lagoas, ficaram nos segundo e terceiro lugares, atrás apenas de Serra (ES), no ranking de emissões por processos industriais.

O setor de energia, em especial os transportes, se destaca como principal fonte de emissão nas grandes cidades, principalmente nas capitais. Serra tem grande parte de suas emissões geradas por processos industriais por abrigar uma siderúrgica. No Rio, o refino e processamento de petróleo são as atividades que mais elevam as emissões.

Excluindo as mudanças de uso da terra, os setores de energia e processos industriais são responsáveis pela maior parte das emissões de 9 dos 10 principais emissores.

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Fonte: Observatório do Clima/SEEG

Sequestro de carbono

O levantamento também mostra, que locais com vastas áreas protegidas sequestram grande quantidade de carbono, o que reduz as chamadas emissões líquidas. Este é o caso de Altamira, o maior município do Brasil em área, que tem remoções de mais de 22 milhões de toneladas de CO2e.

Como as árvores emitem carbono quando se decompõem ou são derrubadas, especialistas ressaltam a importância de manter a floresta em pé. “Se a floresta tem 200 toneladas de carbono vivas, e essas 200 toneladas vão oxidando depois do desmate, o carbono vira CO2 e, se está em condições anaeróbicas (sem oxigênio), pode até virar metano”, ressaltou Tasso Azevedo.