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Informações Ambientais

No Brasil, 76% das fontes de alimento dependem de polinizadores

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No Brasil, 76% das fontes de alimento dependem de polinizadores
Maças são totalmente dependentes de polinizadores

Pesquisadores têm alertado para o desaparecimento de aves, insetos e demais espécies polinizadoras e seu impacto sobre a produção de alimentos e manutenção da biodiversidade. O motivo está na importante atividade que esses animais desempenham: a polinização. De acordo com levantamento divulgado em fevereiro deste ano, mais de 30 alimentos consumidos no Brasil dependem essencialmente de polinizadores.

A pesquisa foi elaborada por 12 especialistas, em uma parceria entre a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e a Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (REBIPP). O estudo contemplou 289 plantas silvestres e cultivadas, utilizadas direta ou indiretamente na produção de alimentos.

Os dados apontam para uma grande dependência da agricultura perante os polinizadores animais. Das 91 espécies, em que há conhecimento disponível sobre a polinização, 69 apresentaram algum grau de dependência de polinizadores para se reproduzirem. Acerola, castanha-do-brasil, maçã, maracujá, melancia, melão e tangerina estão entre as 32 espécies (35%) que precisam obrigatoriamente da polinização.

Quase 25% dos vegetais, incluindo abacate, ameixa, cebola e goiaba, têm alta dependência de polinizadores; 10%, como a soja, têm dependência modesta; e 7%, a exemplo do feijão, tomate e uva, dependem pouco de polinizadores. Ou seja, em menor ou maior grau, 76% das plantas analisadas são dependentes do serviço ecossistêmico de polinização realizado por animais.

Polinização

A polinização – que consiste na transferência de pólen entre a parte feminina e masculina da flor – é o que garante a frutificação e reprodução das plantas, sendo que a maioria não apresenta autopolinização, nem dá frutos na ausência de polinizadores. Quando o pólen é cruzado em indivíduos diferentes, aumentam as chances de se produzir frutos e sementes melhores, além de ampliar a variabilidade genética, deixando os cultivos menos suscetíveis a pragas.

Mesmo em espécies capazes de autopolinização, a presença de animais polinizadores tende a impulsionar a produção, tanto em quantidade como em qualidade. Geralmente, os vegetais que conseguem se reproduzir “sozinhos” são aqueles em que as flores possuem estruturas que facilitam o pólen ser carregado pelo vento.

Estima-se que em uma escala mundial, 75% dos principais cultivos necessitam da polinização, enquanto entre 78 e 94% da flora silvestre precisa dos polinizadores. Além de colaborar para melhores alimentos, os polinizadores são vitais do ponto de vista socioeconômico. Analisando os níveis de dependência e os preços dos produtos, os pesquisadores concluíram que o serviço prestado por esses animais em 2018 equivale a R$ 43 bilhões.

Ameaças

De acordo com o estudo, as ameaças mais significativas aos polinizadores estão relacionadas à fragmentação e perda de habitat e ao uso de agrotóxicos. Mudanças no uso da terra, poluição, alterações climáticas e introdução de espécies exóticas também oferecem perigo aos animais. Fazem parte deste grupo moscas, vespas, borboletas, mariposas, morcegos, besouros e abelhas, responsáveis por quase 80% dos cultivos polinizados.

“As mudanças no uso da terra, para obras de infraestrutura, urbanização ou agricultura, não só levam à perda de áreas naturais, como também à fragmentação dos habitats remanescentes. Tais mudanças ocasionam a redução da disponibilidade de alimentos e de locais para nidificação dos polinizadores”, pontuou o levantamento.

O uso de pesticidas é sem dúvidas o que mais infringe a classe, pois ao atingir as pragas, atingem também os polinizadores. Nem sempre os animais afetados por agrotóxicos morrem, mas sempre sofrem com alguma sequela, como diminuição das taxas de fecundidade, malformações, alterações comportamentais e disfunções hormonais. O uso das substâncias ainda pode suprimir ou encolher a produção de néctar e pólen em algumas plantas, restringindo a oferta de alimentos.

Outro fator prejudicial é a poluição do ar, que interfere na capacidade que as abelhas e outros insetos têm para detectar odores florais. Sem sentir o cheiro, não conseguem localizar as fontes de alimento. Por sua vez, as mudanças climáticas modificam o padrão de distribuição de comportamento dos animais, podendo alterar sua interação com a flora.

Para os autores do estudo, um dos principais desafios para traçar estratégias de conservação é identificar o grau de ameaça de cada polinizador. Para eles, ainda faltam informações sobre as distribuições das espécies e suas relações com as mudanças do clima e do uso da terra.