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Pesticidas podem causar extinção dos insetos

Pesticidas podem causar extinção dos insetos

Vitais para manutenção dos ambientes naturais, os insetos correm risco de desaparecer devido ao uso intenso de agrotóxicos nos cultivos. Utilizados para revestir sementes e proteger vegetais de pragas, eles impactam diretamente as abelhas, responsáveis pela polinização das plantas. Em aves, a contaminação acontece pela ingestão de sementes ou organismos infectados por pesticidas.

Cientistas indicam que ecossistemas inteiros podem ser prejudicados pela agricultura industrial, mas os insetos são os mais vulneráveis a esse modelo de produção. Um compilado de 73 estudos científicos, divulgado no final de janeiro pelo periódico Biological Conservation, indicou que 41% das espécies de insetos sofrem com grave declínio populacional, podendo desaparecer nas próximas décadas.

Por ano, estima-se que a população global da ordem perca 2,5% de seu volume. Os autores do estudo advertem para um “colapso catastrófico” dos ambientes naturais, levando em conta o papel desses invertebrados na natureza. Além de atuarem como polinizadores e recicladores de nutrientes, os insetos servem de alimento para uma gama de animais.

Sánchez-Bayo, pesquisador da Universidade de Sidney, relaciona a mortandade dos insetos com o aumento do uso de agrotóxicos, uma vez que o desaparecimento das espécies começou no início do século 20 e foi se intensificando na mesma medida da popularização dos pesticidas. Nos últimos 20 anos, substâncias mais nocivas, como os neonicotinoides e os fipronils, começaram a serem usadas em larga escala, deixando um rastro de contaminação no ambiente. O uso dos pesticidas, aliado a outras ameaças, como urbanização, introdução de espécies exóticas e mudanças climáticas traçam um futuro incerto para os insetos.

“Em dez anos teremos um quarto a menos [de espécies de insetos]; em 50 anos, apenas a metade; e em 100 anos não teremos nenhuma”, alertou Sánchez-Bayo. De acordo com o levantamento, apenas mudanças no modelo de agricultura atual seriam capazes de reverter esse cenário.

Dano colateral

Produzidos para afetar o crescimento, reprodução e sobrevivência das pragas agrícolas – como lagartas, percevejos e fungos – os pesticidas impactam também outras espécies com organismos semelhantes. As mariposas, por exemplo, são envenenadas com os compostos usados no extermínio da lagarta da soja. Em alguns casos, os agrotóxicos matam até os predadores naturais das espécies combatidas.

Nem sempre os animais atingidos com compostos químicos morrem, mas sempre sofrem com alguma sequela, como diminuição das taxas de fecundidade, malformações, alterações comportamentais e disfunções hormonais. É o que ocorre com muitas abelhas, que não conseguem voltar para suas colmeias após entrarem em contato com as sustâncias dispersas nos campos.

Aves

Estudo publicado em 2017 na revista científica Nature alertou para os impactos dos agrotóxicos sobre a fauna, enfatizando os malefícios às aves. Envenenamento, perda de massa corporal e desorientação durante voos migratórios foram alguns dos efeitos observados em tico-ticos-de-coroa-branca (Zonotrichia leucophrys), expostos a compostos neonicotinoides e organofosforados, amplamente difundidos no Brasil.

Para testar os efeitos dos produtos, pesquisadores alimentaram os pássaros com milhos tratados com imidacloprida e clorpirifós. Os que ingeriram grãos infectados com a primeira substância, um tipo de neonicotinoide, exibiram perda significativa nas reservas de gordura e massa corporal. Já os tratados com clorpirifós, da classe dos organofosforados, sofreram com severa desorientação durante os voos migratórios.

De acordo com os cientistas, ao ingerir, diariamente, cerca de quatro sementes tratadas com imidacloprida ou oito grânulos de clorpirifós, por volta do terceiro dia as aves já apresentam grande abatimento físico e desnorteamento. Consequentemente, diminuem suas chances de reprodução e expectativa de vida.

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