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Espécie da vez

Sapos-arlequim estão entre os anfíbios mais ameaçados do planeta

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Sapos-arlequim estão entre os anfíbios mais ameaçados do planeta
Crédito: Jaime Culebras/Photo Wildlife Tours

Joias coloridas e raras. Assim podem ser descritos os sapos-arlequim, conjunto de 99 espécies do gênero Atelopus encontrados na região Neotropical. Antes comuns e abundantes, esses sapos começaram a desaparecer misteriosamente. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), até 90% dos sapos-arlequim estão ameaçados de extinção e 40% não são vistos na natureza desde os anos 2000, apesar dos esforços para encontrá-los.

Distribuídos por 11 países das Américas Central e do Sul, esses anfíbios são encontrados principalmente em florestas tropicais. No Brasil, ocorrem três espécies: Atelopus spumarius, Atelopus manauensis e Atelopus hoogmoedi. A maioria habita áreas muito pequenas e alguns são restritos a um único riacho. Nas últimas duas décadas, 25 espécies foram descobertas e acredita-se que outras 29 permaneçam desconhecidas pela ciência.

Os sapos-arlequim são animais fascinantes. Apesar das cores chamativas, que vão do vermelho vibrante ao roxo, eles sabem camuflar-se como ninguém. São vistos com maior frequência na época do acasalamento, quando podem passar semanas em amplexo (abraço reprodutivo dos anfíbios), fazendo com que o macho perca até 30% de sua massa corporal devido à falta de alimento.

Infelizmente, estão entre os anfíbios mais ameaçados do planeta. Sua existência corre perigo por conta da poluição das águas, presença de espécies invasoras (como a truta-arco-íris, que come seus girinos) e destruição dos ambientes onde vive. No entanto, a principal ameaça aos sapos-arlequim é a quitridiomicose, doença de pele mortal provocada pelo fungo Batrachochytrium dendrobatidis.

Desde sua descoberta nos anos 1990, a quitridiomicose tem sido relacionada a eventos de morte em massa, ao declínio e à extinção de centenas de espécies de anfíbios em todo o mundo.

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Crédito: Jaime Culebras

Importância cultural e ambiental

Apesar do desaparecimento de algumas espécies, os sapos-arlequim ainda estão presentes em diversas culturas nas Américas. Para algumas comunidades indígenas colombianas, eles são considerados guardiões da água e sinônimo de fertilidade. E o que dizer do Panamá, onde o sapo-dourado-panamenho é símbolo nacional? No país, a espécie está presente em obras de arte e possui até um feriado em sua homenagem.

Os sapos-arlequim possuem função vital na conservação da biodiversidade neotropical. Por serem sensíveis a mudanças de habitat, sua presença é um indicador da qualidade da água e conservação de um ambiente, de modo que seu desaparecimento alerta para um possível desequilíbrio ambiental.

Aliança para as joias

Para tentar salvar os sapos-arlequim foi criada a Iniciativa de Sobrevivência Atelopus (ASI, sigla em inglês), uma aliança sem precedentes para a conservação desses anfíbios. Formada por mais de 40 organizações de 13 países, a ASI planeja livrá-los da extinção nos próximos 20 anos (2021- 2041). Clique aqui para ajudar.

A ASI pretende trabalhar na conservação dos habitats e das bacias hidrográficas das quais dependem os sapos-arlequim, bem como neutralizar a ameaça do fungo causador da quitridiomicose. Prevê também outras medidas de conservação, como reprodução em cativeiro, pesquisa de novas espécies e procura pelos táxons desaparecidos.

“Com suas belas canções e estilos de vida únicos, os anfíbios estão entre os animais mais extraordinários da Terra, e entre eles, os sapos arlequins se destacam por suas cores incríveis”, destacou Luis Fernando Marin da Fonte, coordenador da ASI e diretor de parcerias e comunicação da Amphibian Survival Alliance.

“Mas essas joias coloridas e delicadas estão se tornando cada vez mais raras. Os sapos-arlequim devem ser protegidos não apenas por causa de sua beleza e singularidade, mas também por causa de seu valor intrínseco e importância biológica, ecológica e até cultural”, completou.

Fontes:

Iniciativa de Sobrevivência Atelopus

Valencia, L.M. & Fonte, L.F.M. 2021. Plano de Ação para a Conservação dos Sapos-Arlequim (Atelopus) (2021-2041). Iniciativa de Sobrevivência Atelopus, 52 pp.