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Diferença Ambiental

Veterinária realiza mais de 4 mil castrações gratuitas ou a baixo custo em cães e gatos

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Veterinária realiza mais de 4 mil castrações gratuitas ou a baixo custo em cães e gatos

Desde 2014, a médica veterinária Lorena Ferreira Amaral, proprietária da clínica Bichos da Serra, em Casa Branca, Brumadinho (MG), realiza atendimentos gratuitos ou a baixo custo, como castração, em animais em condições de vulnerabilidade, vítimas de maus tratos e abandono. A clínica abriga animais abandonados e Lorena auxilia na busca por adoção.

Os animais são recolhidos por grupos de voluntários e grande parte são abandonados no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, na região metropolitana de Belo Horizonte. Lorena conta que já foram realizadas mais de 4 mil castrações de cães e gatos gratuitas ou a baixo custo. Tudo isso com muito esforço e dificuldade.

“A pressão emocional é muito grande. Ficar com os animais não é fácil. Até serem adotados, muitos podem ter comportamentos desafiantes, como latir demais, fazer buracos no jardim, comer coco, morder pessoas ou outros animais. Há animais que não são sociáveis e não gostam de contato com humanos”, afirmou.

Pelo trabalho que desenvolve, Lorena é a “diferença ambiental” de outubro de 2021. A distinção foi criada pela Amda para homenagear pessoas que contribuem com a causa ambiental.

Confira a entrevista completa:

Amda – Como funciona esse trabalho?

Lorena Amaral – Desde antes de me formar, eu gostava de retirar animais da rua e dar o mínimo de conforto, cuidados e procurar lares para adotar se eu não pudesse ficar. Já tinha essa vontade de fazer a diferença na vida desses animais vulneráveis e fornecer serviços de cuidado com a saúde de forma justa a todos os animais, de rua ou proprietários carentes.

Tento realizar consultas a baixo custo para pessoas de baixa renda e gratuitas para grupos de proteção ou animais de rua resgatados por quem nos procura. Sempre tento ter à disposição medicamentos doados. Alguns procedimentos, como exames, vacinas e outros cuidados que porventura são necessários, como raio x e internação, são feitos a preço de custo ou com o maior desconto possível.

Infelizmente, alguns cuidados não podem ser gratuitos, já que são fornecidos por terceiros ou utilizamos insumos comprados. Tentamos, na medida do possível, trabalhar com outros veterinários que também disponibilizam mão de obra a baixo custo ou gratuita, fornecendo anestesia, acupuntura e cirurgias.

Amda – O poder público apoia de alguma forma?

Lorena Amaral – Não, já tentamos conversar antes, porém as promessas ficam só na conversa. Não há política pública com viés preventivo, educação ambiental em massa e outras ações que poderiam inibir os maus tratos e abandono aqui na nossa região.

Amda – Além de dificuldades materiais, poderia citar outros obstáculos que enfrenta?

Lorena Amaral – Muitos. Para ser sincera, o financeiro a gente corre atrás com rifas, pedidos de ajuda e algum projeto. Antes fazíamos até rodízios de pizza! Porém, a pressão emocional é muito grande. Ficar com os animais não é fácil. Até serem adotados, muitos podem ter comportamentos desafiantes, como latir demais, fazer buracos no jardim, comer coco, morder pessoas ou outros animais.

Há animais que não são sociáveis e não gostam de contato com humanos. Alguns com doenças crônicas e incuráveis, que demandarão cuidados ao longo da vida, também não são adotados facilmente. Animais idosos. Tem de tudo! Aí é adestramento, ressocialização, paciência, empatia e resiliência que precisam ser maiores em nós.

É difícil, porque mão de obra voluntária é rara. Precisamos de pessoas para passear com os cães, ajudar nos cuidados de socialização, adestramento, limpeza. Nem sempre isso é possível. Poucos se dispõe a pôr a “mão na massa”. Toda ajuda é bem-vinda. Quem pode ajudar com dinheiro ótimo! Quem pode ajudar a divulgar fotos, ótimo! Quem pode ajudar a fazer posts bonitinhos que ajudam a apresentar esses animais, ótimo! Quem pode doar jornais e materiais de limpeza, ótimo! Precisamos, sempre, de todo tipo de ajuda.

Amda – Ao longo desses sete anos à frente da clínica, você provavelmente atendeu animais nas mais diversas condições. Gostaria de citar algum?

Lorena Amaral – Nossa! São muitos. Já foram realizadas de forma gratuita ou a baixo custo mais de 4 mil castrações de cães e gatos. Já atendemos animais em situações graves de maus tratos e abandono. Alguns animais já “tomei” do proprietário quando chegaram aqui em estado grave de saúde por displicência e falta de atendimento adequado.

Um exemplo atual que posso dar, é de um animal atropelado por um proprietário consciente. Ele foi resgatado e apelidado de Morfeu por nós. Estava com fratura na tíbia e metatarso. Foi operado para correção da fratura, castrado e está agora para adoção responsável aqui na clínica.

Amda – E quando descobriu que sua vocação era ser uma “protetora dos animais”?

Lorena Amaral – Quando, exatamente, não sei, mas já pego animais na rua e cuido desde muito nova. O primeiro resgate foi indo para a escola, no pré-primário, com quatro para cinco anos. Era um gatinho amarelo. Claro que eu estava com minha mãe, e ela também sempre foi de olhar o lado dos animais.

Depois cresci e comecei a tomar outras atitudes de apoio a causa, como ser vegetariana. Sou vegetariana desde os 11 anos de idade. Ninguém mais na minha família é, foi uma mudança de consciência natural para mim. E com a escolha de ser veterinária, ficou mais fácil ajudar de forma mais ativa.