Array
Diferença Ambiental

Tonhão cuida do Parque Estadual do Rio Preto desde sua fundação

Array
Tonhão cuida do Parque Estadual do Rio Preto desde sua fundação
Tonhão no córrego das Pindaíbas

Antônio Augusto Tonhão de Almeida foi convidado a assumir a gerência do Parque Estadual do Rio Preto um mês após sua criação, há quase 23 anos. Tonhão foi prefeito de São Gonçalo do Rio Preto, município que abriga a unidade de conservação. Em seu mandato, assumiu o compromisso de cuidar do rio, que era alvo de garimpeiros em busca de diamantes. Em sua primeira viagem à UC, Tonhão conta que havia mais de 100 garimpeiros na nascente do rio Preto.

Tonhão é graduado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e pós-graduado e Administração e Manejo de Unidade de Conservação pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Confira a entrevista:

Amda – Há quanto tempo você gerencia o parque? Quais são as maiores dificuldades que enfrenta?

Tonhão – Assumi a gerência do PERP (Parque Estadual do Rio Preto) em julho de 1994 e o parque foi criado em 01/06/1994, portanto, tenho quase 23 anos de gerência, quase a idade do parque. As maiores dificuldades são recursos insuficientes para uma boa gestão e a falta de compromisso dos nossos governantes para com o meio ambiente. A não valorização da UC da forma como deveria ser, realmente, sabendo que precisamos de um ambiente equilibrado para termos qualidade de vida.

Meio Ambiente fica sempre em segundo plano e só aparece alguma ação quando a mídia “dá de cima”.

Não valorização dos recursos humanos regionais para trabalharem na UC.

Amda – Conte um pouco da história de dois episódios em que você teve papel de destaque: mineração de diamante no rio Preto, dentro de São Gonçalo, e na área que posteriormente tornou-se o Parque Estadual do Rio Preto.

Tonhão – A história de criação do parque nasceu da briga da comunidade de São Gonçalo do Rio Preto contra as dragas de garimpo para diamante no leito do rio Preto, mais especificamente na Praia do Lapeiro. Em 1988, as dragas que aportaram na praia do Lapeiro revoltaram a população.

Durante o período eleitoral, quando me candidatei à prefeitura, assumi o compromisso de defender o rio. Em 1989, um dos primeiros ofícios que fiz foi ao IEF [Instituto Estadual de Florestas] pedindo apoio sobre o que teríamos que fazer para defender o rio Preto, uma vez que não adiantaria fazer isso somente na praia do Lapeiro e deixar arrasarem suas nascentes. A saída, então, foi a criação da Unidade de Conservação.

Concomitantemente, iniciamos o processo de cassação dos Alvarás de Pesquisas do DNPM [Departamento Nacional de Produção Mineral], feito pelo Dr. Manoel Galdino da Paixão Júnior, sem nenhum custo ao município, devido à amizade com minha família e amor ao município. Não posso esquecer-me do meu irmão, João Alberto de Almeida, que também foi um grande sonhador, idealizador e apoiador de todo o processo e até hoje.

Durante os quatro anos de mandato, prestamos todo o apoio logístico para criação do parque, conseguindo a classificação das águas do rio Preto em classe especial, de acordo com a deliberação Copam 01/91. Em julho de 1993, meses após sair da prefeitura, a ALMG [Assembleia Legislativa de Minas Gerais] aprovou uma lei que autorizava a criação do Parque Estadual do Rio Preto. Aproximadamente um ano depois, em 01/06/1994, o então governador Hélio Garcia decretou a criação do PERP em terras do município de São Gonçalo do Rio Preto, com a principal função de preservar as nascentes do rio Preto.

Tive o grande prazer de ser convidado, por Célio Valle e José Carlos de Carvalho, hoje meus amigos, para ser gerente do parque. Sem a mínima pretensão, virei gerente e sei um pouquinho da história, pois participei da criação, da implantação e faço parte da gestão, pode-se dizer há 23 anos. Quando assumi a gerência e fiz a primeira viagem à UC, a cavalo, deparei-me com mais de cem garimpeiros nas nascentes do rio Preto. Foi outra batalha tirar essa turma da UC, mas conseguimos.

Amda – A criação do parque, em sua opinião, foi fruto do amor ao rio Preto pela população de São Gonçalo?

Tonhão – Sim, como disse, a história nasceu com o povo em defesa do rio Preto devido ao amor pelo rio, em defesa da sua integridade. O povo de Rio Preto sempre teve o maior amor pelo rio, seu maior patrimônio.

Amda – Ao longo dos anos, o município teve vários nomes: Rio Preto, São Gonçalo do Rio Preto, Felisberto Caldeira e depois voltou a ser São Gonçalo do Rio Preto. Em plebiscito, quando o município era chamado de Felisberto, a população decidiu retomar ao nome antigo, que permanece até hoje. Poderia nos contar detalhes?

Tonhão – Rio Preto é como se fosse o apelido do lugar, como carinhosamente é chamado pelos seus moradores e pessoas da região. Quando se pergunta de onde a pessoa é, o povo responde “sou de Rio Preto”.

São Gonçalo do Rio Preto era o nome original, e a comunidade era distrito de Diamantina. Quando foi emancipada, em 1963, transformou-se em cidade recebendo o nome de Felisberto Caldeira. Felisberto Caldeira foi um contratador de diamantes e não tinha muito a ver com a região. Até 1986, persistiu o nome de Felisberto Caldeira, quando através de plebiscito a população quis que voltasse ao nome antigo, que permanece até hoje: São Gonçalo do Rio Preto.

Amda – O Parque do Rio Preto é uma das poucas unidades de conservação no Estado que há anos vem sendo protegida contra incêndios florestais. Em sua opinião, como se conseguiu isto?

Tonhão – Isto foi devido à elaboração de um plano, desenvolvido por trabalhos de prevenção e combate, assim como aceiros nos limites, trabalhos educativos, criação e treinamento de brigadas de combate aos incêndios formada por funcionários do parque que são da região, aquisição de equipamentos de combate, fiscalização e monitoramento e uma política de boa vizinhança com os confrontantes do parque.

O último maior incêndio no Rio Preto aconteceu em 2010, mas devido a esse plano, hoje combatemos a maioria dos incêndios nas propriedades vizinhas, antes que atinjam a UC.

Amda – Fale um pouco sobre a importância ambiental, cultural e econômica do parque para São Gonçalo e região.

Tonhão – A importância ambiental é imensa, uma vez que o parque foi criado para preservar as nascentes do rio e está todo inserido em São Gonçalo do Rio Preto, preservando 39% do município, aproximadamente. A UC preserva todas as nascentes do rio Preto que estão a montante da comunidade de Santo Antônio, pois o limite do parque coincide com o limite da bacia do rio Preto, dos lados leste, oeste e sul.

Culturalmente, o povo de Rio Preto é preservacionista, comparado aos municípios da região. O PERP já influencia na economia da região, que mudou depois da criação do parque: as terras no seu entorno valorizaram imensamente. Quando o parque fecha e atividades são afetadas, logo a comunidade reclama.

Amda – Qual a importância histórica da Faz. Sta. Cruz do Gavião, limítrofe ao parque, e cuja área é proposta para ampliá-lo?

Tonhão – A Fazenda Santa Cruz do Gavião possui uma parte dentro do parque e o restante são áreas de recargas hídricas (presença de turfeiras) de nascentes e perenização de afluentes do rio Jequitinhonha e da nascente do Jequitinhonha Preto, todos contribuintes da bacia do Jequitinhonha, além da importante fauna flora e belezas cênicas. As principais nascentes do Jequitinhonha estão na chapada do Couto, Fazenda Santa Cruz do Gavião. Além disso, a Fazenda possui um potencial histórico/cultural enorme, uma vez que faz parte da Estrada Real, pois era passagem e parada das tropas para abastecer ao mercado de Diamantina e região. A fazenda pertenceu, também, ao Dr. José Vieira Couto, médico, naturalista, mineralogista, escritor, pessoa influente na época do império e dono de grande número de escravos.

Amda – O trecho de terra da estrada que dá acesso ao parque é apontado como a principal dificuldade para aumento do número de visitantes. Como você analisa isto?

Tonhão – É verdade. Além disso, é um dos principais fatores impactantes do rio Preto, pois tudo que se faz para manter a estrada em bom estado, o rio é quem “paga o pato”. Vai tudo para dentro dele. A consciência dos governantes para a preservação ainda deixa muito a desejar.

A estrada tem que ser pavimentada, principalmente nas partes mais íngremes. Estabilizando o piso, melhora a acessibilidade e diminui o impacto nos recursos hídricos, pois menos material será carreado.

Amda – O que mais encanta aqueles que visitam o parque?

Tonhão – Primeiramente as belezas naturais e a preservação do parque; em segundo lugar os cuidados e a organização que nós, funcionários, temos com o parque e com a coisa pública; em terceiro seria o carinho e educação com que recebemos nossos visitantes. O diferencial do PERP, até o presente momento, é o recurso humano existente, são os nossos funcionários. Beleza natural existe em todo canto, mas gente boa, nem sempre.