Ciclo de Vida

Ciclo de Vida do Saco Plástico

Ciclo de Vida do Saco Plástico

Há três tipos mais comuns de plástico filme: 1) o polietileno de baixa densidade (PEBD), saco bem transparente, como os de arroz; 2) o polietileno de alta densidade (PEAD), geralmente opaco como as “sacolinhas” de supermercados ou translúcido como os saquinhos de embalar verduras, frutas e legumes; e 3) o polipropileno (PP), caracterizado por fazer barulho quando amassado, como, por exemplo, as embalagens de macarrão.

CICLO DE VIDA

1. Extração e refino do petróleo

O petróleo é o componente básico de mais de 6.000 produtos, sendo, portanto, matéria-prima fundamental em nossa sociedade tal como está atualmente organizada. O petróleo bruto é um combustível fóssil, o que significa que ele é formado pelo processo de decomposição de matéria orgânica – restos vegetais, algas, alguns tipos de plâncton e restos de animais marinhos – ocorrido durante centenas de milhões de anos na história geológica da Terra. Para a produção de plásticos, são destinados cerca de 4% da produção mundial de petróleo.

Para a extração do petróleo é perfurado um poço, no qual se insere uma tubulação que irá captá-lo. Se a pressão for fraca ou nula, será preciso ajuda de bombas de extração. Mesmo assim, há uma perda de quase 50% do petróleo que fica retido no fundo da jazida, não sendo possível sua total extração. Quando a perfuração é feita no mar, montam-se estruturas chamadas plataformas continentais.

Após a extração do petróleo, o transporte se dá por oleodutos até os portos de embarque. Grandes navios petroleiros dão sequência ao transporte até os terminais marítimos a que se destinam, onde, novamente, através de oleodutos, o petróleo é bombeado às refinarias. Esses navios utilizam combustíveis fósseis, que liberam CO2 (dióxido de carbono) para atmosfera, contribuindo para o processo de alterações climáticas.

O petróleo na forma em que é encontrado na natureza não tem aplicação comercial. Para utilizá-lo, é preciso dividi-lo em seus diversos componentes, processo que é chamado de refino ou destilação fracionada. Para isso, aproveitam-se os diferentes pontos de ebulição das substâncias que compõem o óleo, separando-as para que sejam transformadas em derivados para consumo (tais como gasolina, diesel, gás de cozinha, combustível de avião, lubrificantes, solventes e parafinas).

O processo de refino do petróleo, então, consiste em separar os vários componentes (chamados de frações) usando as diferenças entre as temperaturas de ebulição. Isso é chamado de destilação fracionada. Basicamente, esquenta-se o petróleo bruto deixando-o evaporar e depois se condensa este vapor. Essa é a técnica mais antiga. As mais novas usam o processamento químico, térmico ou catalítico em algumas das frações para criar outras, em um processo chamado de conversão.

O processamento químico, por exemplo, pode quebrar cadeias longas em outras menores. Isso permite que uma refinaria transforme óleo diesel em gasolina, de acordo com a demanda. As frações devem ser tratadas para remover as impurezas. As refinarias combinam várias frações (processadas e não processadas) em misturas para fabricar os produtos desejados. Todas essas etapas são bastante complexas e necessitam de várias estruturas diferentes. Para ver mais detalhes a respeito desse processo consulte http://ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/jbmariano.pdf”.
A utilização do petróleo traz grandes riscos para o meio ambiente – do processo de extração, transporte e refino, até o consumo. Graves danos têm ocorrido em função de vazamentos de oleodutos e navios petroleiros. Ao entrar em contato com o mar, o petróleo contamina a água, provocando a morte de peixes, aves e corais. Também contamina o solo, podendo atingir águas subterrâneas e tornando a área de derramamento improdutiva e tóxica.
Vale lembrar que, além dos impactos dos vazamentos e processos industriais, a construção das infra-estruturas (plataformas, oleodutos, refinarias etc) também causa impactos ao meio ambiente, tais como supressão de vegetação – causando perda de habitats – alteração de cursos d’água, além de geração de resíduos e emissões.
Nas refinarias, os principais poluentes atmosféricos emitidos são óxidos de enxofre (SOx), nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO), materiais particulados e hidrocarbonetos1. Esses poluentes são liberados nas áreas de armazenamento, nas unidades de processo, nos eventuais vazamentos e nas unidades de queima de combustíveis fósseis (fornos e caldeiras), que geram calor e energia para consumo da própria refinaria. Tecnicamente, porém, essas emissões podem ser retidas e tratadas, minimizando seus impactos ambientais.
Os resíduos líquidos aqui gerados possuem como principal característica a presença de hidrocarbonetos, e são enviados para tratamento físico, químico e biológico. Existem também diversos sistemas de recuperação e reuso da água no processo.
Durante o refino, são gerados resíduos sólidos nas diversas etapas. Tanto resíduos perigosos quanto não perigosos são tratados e dispostos. Eles são gerados em várias formas diferentes, entre elas, lama e cinzas dos incineradores. Seu tratamento inclui queima e disposição em aterros sanitários, que podem estar situados dentro ou fora das refinarias.
Dentre os diversos produtos que saem das refinarias, a fração nafta (líquido incolor) é o composto utilizado para a fabricação de plásticos. Ela é armazenada em tambores e transportada às centrais petroquímicas por caminhões. Esses normalmente utilizam combustíveis fósseis, liberando, como os navios, gases poluentes na atmosfera e contribuindo para o processo de alterações climáticas. Este impacto não há como evitar, porém, algumas medidas, tais como uso de biocombustíveis, regulagem de motores e economia de combustível, podem minimizá-lo. A redução do consumo de plásticos fabricados com nafta também interfere nos mesmos, pois reduz o consumo de nafta e consequentemente interfere na quantidade de petróleo a ser explorado e no transporte.

2. Centrais petroquímicas

Nas centrais petroquímicas, a nafta é quebrada em fornos de alta temperatura. Aqui também são geradas emissões atmosféricas, que sempre devem ser retidas e tratadas. Entre os vários produtos desse processo, o monômero etileno (C2H4) é o utilizado para obtenção dos plásticos filmes. Ele reage através de reatores de polimerização e formam cadeias de polímeros, na forma de flocos ou pelotas.

Este material é transportado em caminhões (gerando os impactos já citados) em embalagens tipo big-bag, para indústrias transformadoras de plástico.

3. Processo de transformação do plástico

Nessas indústrias, o material recebido é encaminhado para a máquina extrusora. Esta consiste essencialmente de um cilindro em cujo interior gira um parafuso de Arquimedes (rosca sem-fim), que promove o transporte do material plástico. Este é progressivamente aquecido, plastificado e comprimido, sendo forçado através do orifício de uma matriz montada no cabeçote existente na extremidade do cilindro. O aquecimento é promovido ao longo do cilindro e no cabeçote, geralmente por resistências elétricas, vapor ou óleo. O perfil contínuo que sai da matriz, parcialmente amolecido, é submetido a resfriamento em banheira com água. Os sacos plásticos já saem acabados, em bobinas de plástico filme.

A diferença entre os polímeros está na pressão utilizada e nos tipos de catalisadores. O PEAD (polietileno de alta densidade) é muito mais duro e resistente, enquanto o PEBD (polietileno de baixa densidade) é mais flexível e transparente.
As sacolas plásticas são armazenadas em sacos plásticos maiores e distribuídas através de transporte rodoviário, contribuindo novamente para o processo de alterações climáticas já mencionado.

4. Destinação dos sacos plásticos
Os sacos plásticos geram uma quantidade exorbitante de lixo. Segundo a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA, é consumido anualmente no mundo entre 500 bilhões e um trilhão de sacos plásticos.

É grande o descarte inadequado desse produto, que vai parar nas ruas, rios e oceanos. Nas ruas, pode obstruir bueiros, agravando as enchentes. Uma ilha de lixo com mais de 600 km² composta predominantemente por plásticos “navega” hoje entre o litoral da Califórnia e o Japão, no oceano Pacífico. Segundo o PNUMA, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, os detritos plásticos jogados no planeta são responsáveis pela morte de mais de um milhão de aves marinhas todos os anos, além de outros animais, como tartarugas marinhas, tubarões e centenas de espécies de peixes.

Sacolas constituem de 15% a 20% do volume dos aterros e podem levar até 300 anos para se decomporem. Por esse motivo, nos últimos anos esse produto tem gerado grande polêmica, sendo até, em alguns lugares, proibida por lei sua distribuição. Belo Horizonte, em fevereiro de 2011, foi a primeira capital brasileira a proibir a distribuição de sacolas plásticas pelos comerciantes.

Produtos plásticos, desde sua invenção, trouxeram sem dúvida muitos benefícios, como embalagem de alimentos, substituição de materiais etc. Mas os impactos ambientais resultantes de seu processo produtivo e do descarte no meio ambiente natural provavelmente causaram malefícios maiores. Reduzir seu uso e substituí-los por plásticos biodegradáveis parece ser o melhor caminho, que, no entanto, ainda é muito lento em todo o mundo.

Na maior parte das cidades, é obrigatório que as pessoas embalem seus resíduos para coleta em sacos plásticos, o que, em termos ambientais, não é a melhor opção. A decomposição de materiais biodegradáveis neles aprisionados é dificultada, pois o plástico afeta o processo de troca de líquidos e gases, podendo eles sofrer decomposição anaeróbica, que produz um dos principais gases de efeito estufa, o metano (CH4).

O uso de sacolas plásticas e outras embalagens, bem como o de produtos alternativos, tem sido cada vez mais discutido. A produção de embalagens biodegradáveis, fabricadas com matéria prima de origem vegetal, como amido de milho, mandioca, cana-de-açúcar, que se degradam em até 180 dias, choca-se com o fato de que as mesmas são também alimentos. Atualmente, não há produção suficiente de embalagens biodegradáveis para suprir a demanda.

Outra alternativa é o uso de produtos oxidegradáveis, que provém de derivados do petróleo e contém aditivo químico que acelera a degradação quando em contato com a terra, a luz ou a água, ocorrendo em até três meses. Porém, acontece na verdade apenas uma fragmentação do produto, transformando-o em pequenas partículas ou pó – material tóxico que pode contaminar solo, águas, fauna e humanos.

Para cada sacola plástica consumida, considerando produção e transporte, emite-se 0,0625 Kg de CO2 para a atmosfera. Se uma pessoa consome no mês 20 sacolinhas, em um ano terá contribuído com a emissão de 15 Kg de CO2.
5. Reciclagem
Para ser reciclado, o plástico passa pelo aglutinador, espécie de “batedeira de bolo grande” que aquece o material pela fricção de suas hélices, transformando-o em “farinha”. Em seguida, é aplicada pouca água para provocar resfriamento repentino que resulta na aglutinação – as moléculas dos polímeros se contraem, aumentando sua densidade, transformando o plástico em grãos. Assim, ele passa a ter peso e densidade suficientes para descer no funil da extrusora, máquina que funde o material e o transforma em tiras. Na última etapa, elas passam por banho de resfriamento e são picotados em grãos chamados “pellets”, que são ensacados e vendidos para fábricas de artefatos plásticos.

Considerações finais

Os impactos no ciclo de vida dos sacos plásticos são muitos – uso de recurso natural não renovável, processamento desse recurso com grande potencial poluidor, resíduos sólidos gerados em grande quantidade, longo tempo de decomposição e danos ambientais gravíssimos. Não há dúvida de que o melhor caminho é ter como meta a supressão de seu uso e substituição por outros materiais. No entanto, enquanto isto não acontece, a redução do uso e cuidado extremo no que se refere à reutilização e reciclagem devem ser medidas adotadas por todos nós.

Resumo do Ciclo de Vida e seus impactos

1. Extração e refino de petróleo – gasto de recurso natural não renovável, contaminação de solo e água por vazamentos, geração de resíduos contaminados e emissão de gases causadores do Efeito Estufa.

2. Centrais petroquímicas/indústrias transformadoras de plástico – geração de efluentes líquidos e gasosos e geração de resíduos sólidos, gasto de combustíveis fósseis e emissão de gases causadores do Efeito Estufa.

3. Embalagem e transporte – gasto indireto (fabricação de veículos) e direto de recursos naturais (queima de combustíveis fósseis – gasolina, óleo diesel, graxas etc), emissão de gases causadores de Efeito Estufa e geração de resíduos sólidos.

4. Consumo – geração de resíduos em grande volume com longo tempo de decomposição que, se mal destinados, contaminam águas e solos. São resíduos recicláveis e devem ser devidamente encaminhados para tal processo.

Glossário

1 – Hidrocarbonetos: moléculas que contém hidrogênio e carbono e existem em diferentes tamanhos e estruturas. Os hidrocarbonetos contêm muita energia. Muitos dos produtos derivados de petróleo bruto, como gasolina, óleo diesel, parafina sólida e assim por diante, são úteis graças a essa energia. A diferença de formas se deve ao tamanho das cadeias de hidrogênio e carbono. O menor hidrocarboneto é o metano (CH4), um gás mais leve do que o ar. Cadeias mais longas contêm cinco carbonos ou mais e são líquidas; já nas cadeias muito longas há hidrocarbonetos sólidos, como a cera. Ao ligar quimicamente cadeias de hidrocarbonetos artificialmente, obtemos vários produtos, que vão da borracha sintética até o náilon e o plástico de potes para alimentos.

2 – Compostagem: processo biológico em que os microrganismos transformam a matéria orgânica, como estrume, folhas, papel e restos de comida, num material semelhante ao solo, a que se chama “composto”, e que pode ser utilizado como adubo.

Bibliografia

As sacolas de plástico devem ser substituídas? Disponível em: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/conteudo_255967.shtml.

Acesso em 15 abr 2011.

BNDES. Relato setorial – Polietileno de alta densidade (pead). Disponível em:

http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/relato/peadx.pdf

Acesso em 04 abr 2011.

Consumo consciente de sacolas plásticas. Disponível em:

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/plasticos/saco-plastico.php. Acesso em 04 abr 2011.

COUTINHO, Fernanda M. B.; MELLO, Ivana L. e SANTA MARIA, Luiz C. de. Polietileno: principais tipos, propriedades e aplicações. Polímeros, 2003, vol.13, n.1, pp. 01-13.

KRAMER, Ernesto. Sacolas Plásticas: qual solução? Disponível em: http://www.sacsplast.libertar.org/?p=66. Acesso em 26 abr 2011.

Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais. Sacolas Plásticas – Entidades representantes do comércio varejista e da sociedade se unem em apoio à lei municipal que restringe o uso de sacolas plásticas. Disponível em http://site.acminas.com.br/?id_pagina=1510. Acesso em 02 mai 2011.

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