Informações Ambientais

Projeto vai mapear todo o fundo do mar até 2030

Projeto vai mapear todo o fundo do mar até 2030
As profundezas dos oceanos abrigam criaturas incríveis

Os oceanos cobrem quase dois terços da superfície da Terra, mas menos de 20% desse território é conhecido pelos humanos. Tudo que se sabe é que além de riquezas inexploradas, o fundo do mar guarda informações estratégicas. O relevo submerso é capaz de orientar as correntes marítimas, influenciando o clima, a pesca e até os desastres naturais, como tsunamis e furacões. Por isso são muitos os interessados no desenvolvimento da topografia oceânica, a chamada batimetria.

O Gebco (Gráfico Batimétrico Geral dos Oceanos) é um grupo internacional de oceanógrafos e pesquisadores, vinculado à Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco, interessado na batimetria. Recentemente, a instituição e a Nippon Foundation anunciaram a criação do Seabed 2030, projeto colaborativo que visa mapear todo o fundo do mar até 2030 e disponibilizar todas as informações.

A iniciativa pretende desenvolver mapas batimétricos em alta resolução por meio de dados coletados por embarcações sonares (capazes de emitir e identificar ondas sonoras). Como grande parte já conta com esses mecanismos para prevenção de acidentes, navios de carga, pesca e lazer também poderão participar do projeto.

Para que todos possam cooperar, o Gebco disponibilizará um material ensinando como funcionam os mapas e como deve ser realizada a coleta dos dados. Ao descobrir novos elementos, como recifes e colinas, os colaboradores também podem sugerir nomes: basta enviar uma carta à Organização Hidrográfica Internacional, que fica em Mônaco.

A ideia é que as embarcações transmitam, em tempo real, os dados sobre o local em que estão passando. A grande dificuldade é fazer com que os barcos passem por rotas pouco utilizadas. Há grandes extensões do oceano que não contam com nenhum fluxo regular de embarcações, por isso são pouco conhecidas, mas não menos importantes.

Tecnologia

Até o final da década de 70 utilizava-se o método de eco-sondas de feixe único para medir a profundidade dos oceanos, no qual o barco emitia um pulso sonoro e esperava o eco gerado pelo mar. Nesse esquema, a profundidade era obtida dividindo a velocidade do som pela metade do tempo levado para o eco ser ouvido.

Hoje, a tecnologia empregada é o mapeamento batimétrico multifeixe, que também mede a profundidade por meio de ondas sonoras, mas em vez de uma onda são emitidas várias simultaneamente. Nesse método, os dados são registrados automaticamente em um computador para processamento, limpeza e mapeamento. Desse modo, os múltiplos feixes ampliam a área de cobertura do mapa e a precisão dos dados.

Apesar de “revolucionário”, sistemas batimétricos de múltiplos-feixes são caros e necessitam de operadores especializados, por isso o projeto também pretende utilizar veículos subaquáticos autônomos (AUV’s). Eles são mais acessíveis e ideais para grandes extensões de água.

Os AUV’s funcionam sem a necessidade de estarem ligados a uma embarcação por cabos e podem ser programados para ir e voltar de determinado local. Eles são frequentemente utilizados na exploração de petróleo e gás.

Riscos

A iniciativa seria crucial para descoberta e conservação de espécies, mas ambientalistas temem que a proposta tenha finalidade comercial, afinal, o mapa também localizaria grandes estoques de petróleo, gás natural e metais preciosos. Se a indústria extrativa se apossar dessas informações, habitats marinhos e comunidades costeiras poderiam correr grave perigo. Por outro lado, sem o apoio empresarial seria quase impossível estudar os oceanos.

Mesmo sem o mapeamento global, a mineração em águas profundas é um negócio que já virou realidade em diversos locais. Um exemplo é a De Beers, corporação especializada em mineração de diamantes que está há mais de 20 anos na costa da Namíbia. Do outro lado do continente Africano, no Oceano Índico, empresas já estão desenvolvendo mapas batimétricos de alta qualidade para explorar os reservatórios de ligas metálicas raras, petróleo, fontes hidrotermais e também diamantes.

Esses mapas poderiam ser compartilhados com o Gbeco, mas o custo ambiental dessa nova empreitada ninguém sabe ao certo. Os principais riscos apontados por cientistas são degradação de habitat, contaminação por produtos químicos e extinção de espécies.

A situação se agrava pelo fato de os oceanos já estarem fragilizados pela poluição e “urbanização oceânica”, processo em que os mares estão sendo tomados por oleodutos, cabos submarinos de fibra óptica e equipamentos de exploração pesqueira. A cobiça aumenta ainda mais, pois as reservas de petróleo conhecidas estão se esgotando.

Também é importante destacar que as profundezas dos oceanos abrigam criaturas incríveis, como polvo-dumbo, lula-vampira-do-inferno, tubarão-fantasma, caranguejos-aranha, corais e enguias elétricas. Todos têm uma característica em comum: a sensibilidade. Essas espécies se reproduzem lentamente e são muito prejudicadas com mudanças em seus habitats.

Por isso, medidas preventivas serão mais que necessárias quando os dados batimétricos se tornarem públicos, de maneira que não sirvam apenas como “mapa do tesouro”, mas como instrumentos de preservação de uma rica biodiversidade ainda não muito conhecida.



Fontes: BBC e Gebco (Gráfico Batimétrico Geral dos Oceanos)