Array
Entrevistas

Especial Amda 40 anos: Fernando Leite

Array
Especial Amda 40 anos: Fernando Leite

Em agosto a Amda completa 40 anos de fundação. O que não faltam são histórias para ilustrar quatro décadas de lutas emblemáticas pela proteção do meio ambiente. Por isso, convidamos algumas pessoas que marcaram a história da organização. Nesta semana conversamos com Fernando Antônio Leite, técnico em agropecuária e geógrafo, que atua há 20 anos na área ambiental.

Amda – Como começou seu envolvimento com a Amda? Você atuou diretamente com a instituição? Conte-nos um pouco da sua história com a organização.

Fernando Leite – Tomei conhecimento do trabalho da Amda no início da década de 1990, por intermédio de jornais. Acho que me associei em 1992. Na época, trabalhava como técnico agrícola e tinha uma grande inquietude pelos problemas ambientais que assolavam o setor, com os quais eu sempre me deparava. Nesse sentido, um dos fatos mais impactantes que vivi foi a abertura de mais uma fronteira agrícola em Primavera do Leste (MT), onde o desmatamento e uso indiscriminado de agrotóxicos constrangiam e assustavam. Aquilo me fez ver que eu queria e precisava atuar de outra forma. Assim, procurei me aproximar mais da Amda, principal referência ambiental que eu tinha à época. Tive uma aproximação mais concreta na festa de 18 anos da entidade, para a qual os associados foram convidados. Nessa oportunidade houve um estreitamento de contato e fui convidado para participar de reuniões. E assim, passei a atuar como voluntário e também profissionalmente, por meio de projetos, os quais eu trabalhava na captação de cursos e execução dos mesmos.

Amda – Para você, qual é a maior conquista da instituição?

F.L – Creio que sem dúvida foi o sucesso da entidade na articulação com agentes econômicos e poder público, contribuindo assim para um salto na agenda ambiental mineira. A entidade manteve por vários anos um Fórum de alto nível, envolvendo grandes empresas, muito representativas do PIB do Estado, e o Poder Público Estadual. Por meio de uma militância aguerrida e incisiva, a entidade construiu uma liderança sobre grandes empresas e o poder público. E nesse contexto, constituiu-se também como referência para a imprensa.

Amda – E qual é o maior desafio atualmente?

F.L – Primeiro o prosaico, ou seja, a sobrevivência, que está cada vez mais difícil num momento em que a agenda ambiental perde espaço e sofre riscos de perder mais ainda, dado os cenários políticos existentes. Segundo, após sobreviver, é inovar para atuar, afinal os tempos são outros. É encontrar formas de chamar atenção para a importância da biodiversidade, foco já estabelecido pela entidade. Aliás, a biodiversidade é um diferencial de Minas Gerais e do Brasil no contexto mundial. É oportunidade para um salto, ou seja, encontrar mecanismos que valorizem mais a floresta em pé, que vão além dos alcances dos PSA [Pagamento por Serviços Ambientais] e imposições legais.

Amda – Conte-nos alguma luta da entidade que você participou e marcou sua caminhada.

F.L – Participei na organização das últimas Listas Sujas; da Lista Limpa; e de alguns projetos, como: Verde Catas Altas; O Futuro da Energia; e Indicadores de Sustentabilidade. Participei também de um Programa Ambiental no âmbito da Agenda 21, de um ano, na Alemanha, representando a entidade. Inclusive recebemos posteriormente estudantes alemães que vieram conhecer o “Projeto dos Sócios Jurídicos”, estagiando pela entidade e pelas empresas durante três meses. Representei a instituição em inúmeras oportunidades, em vários âmbitos, incluindo órgãos colegiados, como o Copam [Conselho Estadual de Política Ambiental] e Comitê de Bacia do Rio das Velhas.

Não destaco nenhuma luta em específico como a mais marcante, mas sim o conjunto, a sinergia e os sonhos sempre alentadores. Aliás, era luta mesmo, pois sempre tinha poucos recursos ou nenhum, o principal recurso era o sonho. Esses sonhos, quase romantismo, parecem não ter mais espaço nos dias atuais, que requerem profissionalismo e pragmatismo concreto.

Amda – Neste aniversário de 40 anos, o que você deseja para a Amda?

F.L – Desejo que ela se renove e inove, conquiste mentes e corações e se transforme em uma poderosa Agência Mineira de Desenvolvimento Ambiental. E nesse sentido seja referência em ações para conservação e/ou preservação dos biomas Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica.