Entrevistas

Especial Amda 40 anos: José Carlos Carvalho

Especial Amda 40 anos: José Carlos Carvalho

Em agosto a Amda completa 40 anos de fundação. O que não faltam são histórias para ilustrar quatro décadas de lutas emblemáticas pela proteção do meio ambiente. Por isso, convidamos algumas pessoas que marcaram a história da organização. Nosso primeiro convidado é José Carlos Carvalho, ex-ministro de Meio Ambiente e ex-secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

Amda – Como começou seu envolvimento com a Amda? Você atuou diretamente com a instituição? Conte-nos um pouco da sua história com a organização.

José Carlos – Comecei a conviver com a Amda, seus dirigentes e militantes desde o fim dos anos 1970, quando cheguei a Belo Horizonte como servidor de carreira do Instituto Estadual de Florestas (IEF), logo no inicio da organização da entidade. Dessa forma, acompanhei praticamente toda a trajetória da Amda. Nesse período, como Presidente do IEF, Secretário de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, Diretor e Presidente do antigo IBDF/IBAMA, Secretário Executivo/Ministro de Estado do Meio Ambiente e cidadão comum, sempre acompanhei de perto a luta da entidade e o empenho dos seus dirigentes em defesa do meio ambiente. Ao longo desse período desenvolvemos muitos projetos em parceria, além de compartilhar com a Amda sua atuação estoica nos colegiados de governança da política estadual de meio ambiente. Não destaco apenas a cooperação direta com a organização, mas realço sua atuação política corajosa e destemida na defesa do seu ideário, se posicionando criticamente sempre que necessário.

Amda – Para você, qual é a maior conquista da instituição?

J.C. – Para uma instituição que já completa 40 anos ininterruptos de atividades é difícil mencionar uma conquista destacada, porque o que deve ser realçado é o conjunto da obra, a capacidade da entidade de se manter ativa ao longo de todos esses anos sem se afastar do seu ideário. Nesse período, a Amda teve enorme resiliência política, mudando as estratégias e as táticas de luta, sintonizando-se com os novos contextos e circunstâncias da história, mas sem se afastar do seu compromisso original.

Amda – E qual é o maior desafio atualmente?

J.C. – Para mim, o maior desafio da Amda e de todas as entidades públicas e privadas com forte atuação político-social é adaptar-se aos novos tempos da comunicação instantânea proporcionada pela revolução digital que marcará o século XXI, tal como a revolução industrial marcou o século XVIII, com o poder da comunicação e do debate político se deslocando da mídia tradicional para as redes sociais. Na atualidade, a cidadania não precisa mais recorrer a uma entidade para, por exemplo, organizar um abaixo assinado, qualquer pessoa pode fazer isso sem sair de casa. Logo, torna-se necessário adaptar-se a esse novo momento que veio para ficar.

Outro grande desafio colocado para as ONGs no atual momento histórico vivido pelo país, de crise das instituições e falência moral das autoridades públicas, é a importância de manterem acesa a chama da nacionalidade e a integração do país, desfraldando as bandeiras da liberdade, da justiça e de esperança no futuro. Quando o estado nacional se debilita, perdendo a credibilidade junto à população, resta à sociedade civil funcionar como esteio da nação para evitar o aventureirismo político e totalitário que se aproveitam desses momentos.

Outro desafio colocado para a Amda e as demais entidades ambientalistas de Minas e do Brasil é a luta ingente contra os retrocessos que estão perpetrando na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional para desfigurar a politica ambiental e descontruir as conquistas obtidas até aqui.

Amda – Conte-nos alguma luta da entidade que você participou e marcou sua caminhada.

J.C. – Muitas das iniciativas positivas para a gestão ambiental mineira da qual participei nos vários cargos que ocupei no Estado tiveram a participação da Amda, incluindo os vários marcos legais que conseguirmos aprovar na ALMG e que agora estão sendo descaracterizados pela sanha retrógrada da atual legislatura e pela debilidade política do governo. Destaco, como exemplo específico, a criação e implantação do sistema de áreas protegidas do vetor norte da região metropolitana de Belo Horizonte, cuja existência contou com forte protagonismo da Amda.

Amda – Neste aniversário de 40 anos, o que você deseja para a Amda?

J.C. – Desejo que a Amda faça outros 40 anos, com o mesmo estoicismo, a mesma clareza de desfraldar as bandeiras das lutas em prol do meio ambiente e da sustentabilidade, mantendo sua capacidade de ação política e de articulação institucional. Precisamos de organizações capazes de construir pontes, de criar canais de diálogo e de entendimento, de combater a degradação ambiental com firmeza, mas sem o sectarismo que vive de maldizer os problemas, sem compromisso com as soluções.