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Ciclo de Vida

Ciclo de Vida do Papel

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Ciclo de Vida do Papel

Sua principal matéria-prima é a celulose, obtida a partir de fibras celulósicas, retiradas dos troncos dessas árvores. São usados também produtos inorgânicos para imprimir ou melhorar certas propriedades do papel.

Papel é fundamental ao nosso modo de vida. Por isso, não há como negar a importância dessa atividade econômica. Porém, como qualquer outra, se não for exercida com responsabilidade sócio-ambiental, torna-se fator de degradação e destruição de ambientes naturais.

Como qualquer outra monocultura, plantios florestais podem causar desmatamento e impactos sobre a biodiversidade; erosões; poluição hídrica por agrotóxicos, óleos e graxas (de caminhões e máquinas agrícolas) e carreamento de sedimentos (devido à aragem do solo, abertura de vias etc). No entanto, como já existem muitas áreas desmatadas em todo o país e grande parte delas está abandonada ou sub-utilizada, não há necessidade de mais desmatamento para plantio de florestas.

PROCESSO PRODUTIVO

Quando chegam à idade adequada, as florestas são cortadas e a madeira é transportada às fábricas por caminhões, que normalmente utilizam combustíveis fósseis, que liberam gases poluentes na atmosfera. Esse impacto deve ser minimizado ao máximo através da regulagem de motores e economia de combustível. As florestas industriais absorvem gases de carbono quando estão em crescimento. Quando são cortadas, há liberação dos mesmos para a atmosfera, impacto que não há como ser evitado.

OBTENÇÃO DE CELULOSE

As toras, ao chegarem à fábrica, são descascadas, lavadas, picadas em pequenos pedaços (para facilitar difusão dos reagentes químicos) e direcionados à etapa de formação da polpa.

O processo de polpação mais utilizado no Brasil é o Kraft, onde os cavacos de madeira são submetidos à reação com licor branco (hidróxido de sódio e sulfeto de sódio) dentro de um digestor. Ali, são mantidos a altas temperaturas e pressões, que dissolvem componentes da madeira que não interessam ao produto final, principalmente lignina – molécula orgânica associada à celulose.

Durante esse processo, há formação de compostos voláteis de enxofre (mercaptanas) que liberam mau cheiro. Esses compostos são classificados, usualmente, como Gases Não-Condensáveis (GNC), que podem ser diluídos ou concentrados. Para reduzir o odor e também a emissão de partículas (Sox – óxido de enxofre, CO – óxido de carbono e Nox – óxido de nitrogênio) para a atmosfera, instalam-se icineradores de gases. Porém, nem todas as empresas do setor possuem sistema de coleta e queima dos gases diluídos (apenas dos concentrados). Por isso, em muitas ainda é comum perceber esse cheiro forte em seu entorno.

O processo de cozimento da madeira gera efluente conhecido como “licor negro”, que tem elevadas cargas de matéria orgânica e sólidos em suspensão. Uma fábrica de celulose, que utiliza o processo kraft, produzindo 1000 t/dia pode despejar montante equivalente ao esgoto doméstico de uma cidade de 120 mil habitantes. Se este efluente não for tratado antes de ser despejado nos cursos d’água, pode causar gravíssimos impactos ambientais pois para ser processado pela natureza, retira todo o oxigênio da água, matando qualquer forma de vida. Por isso, todo efluente gerado tem de passar por estações de tratamento e só ser lançado nos rios atendendo às especificações da Resolução 357 do Conama e legislações estaduais.

A polpa resultante é submetida ao processo de branqueamento, que consiste em vários estágios onde são utilizados diversos reagentes químicos. Ela é lavada com grande quantidade de água entre um estágio e outro para que as substâncias responsáveis pela coloração sejam removidas. A água suja é tratada e enviada ao corpo d’água receptor.

Durante o processo de clareamento químico, pode haver formação de dioxinas (compostos organoclorados) devido à utilização de reagentes como dióxido de cloro. Conforme Resolução 357 do Conama, essas substâncias devem ser completamente eliminadas no tratamento dos efluentes antes de serem lançados nos corpos hídricos. Pesquisas têm sido feitas para reagentes alternativos como o ozônio e o peróxido de hidrogênio.

Por motivos diversos, principalmente culturais, o mercado dá preferência ao papel branco. Para ficar branquinho o papel sofre um clareamento químico que é um dos processos mais poluentes dessas indústrias. Uma alternativa é o Papel Ecograph, que é clareado a oxigênio e as folhas ficam com coloração creme.

Ao final do branqueamento, a celulose está bastante diluída em água e tem de ser seca, o que é feito por uma máquina de secagem que no processo forma uma folha contínua de celulose, que é, logo em seguida, cortada em pedaços retangulares. Esses são empilhados e amarrados com arame, constituindo os fardos de celulose.

O transporte dos fardos para as fábricas onde será produzido o papel propriamente dito é feito por caminhões, gerando impactos já citados, relativos à queima de combustíveis fósseis. Como no Brasil o governo priorizou transporte rodoviário, o gasto dos mesmos é muito grande. A exportação normalmente é feita por navios,que também são movidos a combustíveis fósseis.

FABRICAÇÃO DO PAPEL

Na fábrica de papéis, as folhas de celulose retornam à condição de polpa. Nessa etapa, são adicionadas a ela as chamadas cargas, que são produtos inorgânicos para proporcionar maior uniformidade, lisura e opacidade. Entre esses produtos o principal é o caulim (minério composto de silicatos hidratados de alumínio que apresentam plasticidade e resistência mecânica a seco). Além das cargas, podem ser adicionados outros produtos inorgânicos para se obter características necessárias aos diversos tipos e cores de papel, tais como colas e corantes.

Depois essa pasta é misturada a grandes quantidades de água, na proporção 1:99 (ou seja, uma parte de polpa para 99 partes de água), formando suspensão leitosa que será levada para as máquinas e cilindros que formarão a folha de papel. As folhas produzidas são inicialmente enroladas em enormes bobinas. Por fim, são cortadas mecanicamente e caminham por esteiras até serem embaladas, normalmente, com embalagens plásticas. São, assim como a celulose, transportados às empresas revendedoras por transporte rodoviário, demandando mais gasto de comubustível fóssil. O plástico utilizado para embalagem é tambem fabricado a partri do petróleo (ver ciclo de vida do plástico).

RECICLAGEM

Quase todo os tipos de papel podem ser reciclados, gerando economia de recursos naturais. No processo industrial de reciclagem do mesmo, há redução considerável do consumo de energia e água e da poluição da água e do ar, se comparado à fabricação do papel a partir da matéria-prima virgem.

É importante ressaltar que as fibras resultantes dos papéis reciclados têm capacidade limitada de reciclagem – considera-se o limite entre 5 a 7 ciclos. A cada ciclo, elas perdem tamanho, flexibilidade e capacidade de ligação, e por isto, mesmo que o índice de reciclagem fosse muito alto, ainda haveria necessidade de produção de fibras virgens. O processo de reciclagem, como qualquer processo industrial, pode gerar impactos negativos ao meio ambiente se os efluentes resultantes não forem devidadamente tratados.

O processo de reciclagem no Brasil é infelizmente ainda muito pequeno, devido principalmente à ausencia de políticas públicas que incentivem implantação de fábricas. Somente 37% do papel utilizado no país é reciclado.

Papéis que podem ser reciclados: folhas e aparas de papel, jornais, revistas, caixas, papelão, formulários de computador, cartolinas, cartões, envelopes, rascunhos escritos, fotocópias, folhetos, papel de fax, impressos em geral e tetra pak. Devem estar secos, limpos (sem gordura, restos de comida, graxa etc), de preferência rasgados, e não amassados. As caixas de papelão devem estar desmontadas por uma questão de otimização do espaço no armazenamento.

Para encaminhar papel para reciclagem, assim como plástico, metal, vidro, lâmpada e bateria, consulte o site www.rotadereciclagem.com.br. Basta digitar o endereço na ferramenta de busca e esta indicará onde encontrar os pontos de recolhimento mais próximos.

A reciclagem evitaria ainda o descarte de papéis no meio ambiente, diminuindo a quantidade de resíduos que são levados a lixões e aterros. No Brasil o desperdício desse produto ainda é muito alto pela sociedade de forma geral, empresas e poder publico. Excesso de embalagens num só produto, baixa reutilização como impressão em somente um lado da folha ou não reutilização para rascunho e desperdício generalizado fazem parte do processo de desperdício.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como qualquer produto que consumimos, o papel tem seu ciclo de vida, que começa pelo plantio de florestas e termina com o consumo do produto por toda a sociedade. Muita gente desconhece isso, o que pode levar à despreocupação quanto aos danos ambientais que podem ser causados nas diversas etapas de seu processo de fabricação.

Redução de consumo é a melhor atitude que podemos ter pois, mesmo o papel produzido por empresas que atuam com responsabilidade ambiental traz consigo gasto de matérias primas retiradas do meio ambiente natural e impactos ambientais (mesmo minimizados).

Para ajudar consumidores responsáveis e conscientes, aqui vão algumas dicas para reduzir ao máximo possível o uso de papel. Por exemplo: não leve para casa excesso de embalagens, reutilize papel dos dois lados, evite imprimir o que não for essencial, dê preferência a produtos reciclados ou que possuem selo de certificação do FSC (Conselho Brasileiro de Manejo Florestal, do inglês Forest Stewardship Council) e, finalmente, separe o lixo doméstico e doe materiais recicláveis para cooperativas de catadores.

Figura: Etapas do processo de produção do papel. Fotos: Cristiano F. Burmester, obtidas em http://www.scipione.com.br/educa/galeria/14_ppl/index.htm

Arte: Ducimeire Clara Eurípedes

BIBLIOGRAFIA

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